Para dar resposta a desastres naturais, um grupo de investigadores do Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Tecnologia e Ciência (INESC TEC), do Porto, com recurso a uma tecnologia inovadora, criou uma rede de comunicações em drones.
Único parceiro português do projeto internacional ResponDrone – Situational Awareness System for first responders, ao INESC TEC coube a tarefa de desenvolver uma solução de comunicações sem fios, sustentada por drones, que garanta o contacto entre equipas de emergência, seja no terreno, seja nos centros de comando.
“Desenvolvido com o objetivo de simplificar e acelerar a avaliação de situações de catástrofe natural, a partilha de informação, a tomada de decisão e a gestão de operações, o projeto ResponDrone vem garantir um sistema inovador que permite às equipas de socorro responder com mais rapidez, eficácia e eficiência a uma emergência, salvando mais vidas”, refere em comunicado, enviado à Renascença, este instituto ligado a atividades de investigação científica e desenvolvimento tecnológico.
O projeto, que arrancou em 2019 e terminou este ano, “utiliza drones para apoiar nestas operações, através de uma solução de comunicações sem fios que, mesmo em casos de falha de cobertura móvel ou necessidades de reforço de capacidade no local do desastre, mantém a ligação web entre as equipas de socorro e o centro de comando”, acentua o INESC TEC.
“Num cenário de emergência, existe muita dificuldade em gerir as fontes de informação, em fazer um rápido levantamento do ponto de situação, em perceber como está a evoluir um incêndio ou uma cheia, por exemplo, porque não existem sensores no local que possam fornecer esses dados”, explica Hélder Fontes, um dos investigadores que participou neste projeto.
Em casos de desastre natural, as comunicações são, muitas vezes, afetadas, ficando sobrecarregadas ou danificadas, o que leva o especialista a alertar para a situação das “vítimas que ficam sem conseguir pedir auxílio e as equipas de emergência impedidas de coordenar corretamente os recursos que têm no terreno”.
O estado das infraestruturas, a rede elétrica, os acessos rodoviários e, sobretudo, a localização exata das vítimas, são informações absolutamente fundamentais para que as equipas de socorro possam responder a emergências.
Daí, insiste Helder Fontes, a “importância extrema de desenvolver uma infraestrutura de comunicações independente e dinâmica”, com o ResponDrone a garantir “que toda essa informação é recolhida, processada e partilhada, de modo a direcionar as equipas de socorro, monitorizar o progresso da missão e auxiliar na tomada de decisão”.
Na prática, qual a mais-valia?
No que diz respeito à componente desenvolvida pelo INESC TEC, criou-se uma infraestrutura de rede independente que pode ser montada muito rapidamente e que se ajusta “às necessidades dos cenários, sejam eles incêndios, cheias, terramotos, busca e salvamento, etc”.
Além de facilitar as comunicações, os drones estão igualmente preparados para “incluir câmaras de vídeo, mantimentos, medicamentos e sistemas de deteção de telemóveis de pessoas perdidas”.
Mas não é tudo. Os investigadores asseguram que os aparelhos são desenvolvidos para serem utilizados de forma estruturada e integrada no restante espaço aéreo, “o que permite evitar embate com aviões a operar na mesma zona”.
Entre as vantagens do projeto são destacadas, também, “a possibilidade de recalcular trajetórias para evitar que sobrevoem pessoas ou incêndios e que possam detetar indivíduos, veículos, fogos e zonas alagadas utilizando inteligência artificial, em tempo real”.
Por outro lado, as tecnologias desenvolvidas no âmbito do projeto permitem, ainda, que a mesma equipa possa operar vários drones e que “qualquer socorrista com a aplicação possa controlar a orientação das câmaras a bordo, enquanto assiste, em direto, ao respetivo vídeo”.
Apesar de desenvolvido a pensar no apoio às operações em cenários de emergência e resgate de sobreviventes, o sistema ResponDrone pode também ser “utilizado como ferramenta de apoio a ações de prevenção de desastres naturais, como o patrulhamento de áreas florestais e deteção automática de incêndios”, acrescenta, Hélder Fontes.
Atualmente, já está a ser preparada a transferência do sistema para o mercado. O objetivo, de acordo com o instituto, é vender a tecnologia mediante uma subscrição anual, que garante a sua atualização ao longo do tempo, consoante as necessidades.
O projeto ResponDrone é financiado pela Coreia do Sul e União Europeia e inclui 20 parceiros de 12 países: Alemanha, Israel, Espanha, França, Coreia, Países Baixos, Letónia, Arménia, Grécia, Bulgária, Portugal e Bélgica.