O dirigente socialista José Manuel dos Santos diz não saber se, entre os nomes que vão sendo avançados como eventuais candidatos à Presidência da República, há “algum que tenha evidência do legado” de Mário Soares. O coordenador da Comissão Organizadora das comemorações do centenário de Mário Soares, que esta quinta-feira arrancam no Porto, sugere que os futuros candidatos a Belém, “quando o forem realmente”, é que “podem dizer o que é que pensam desse legado”. “Eu acho que é a melhor maneira de o saber”, afirma, em entrevista à Renascença.
José Manuel dos Santos defende que, num momento “em que a democracia está ameaçada por múltiplos perigos”, mais do que nunca “qualquer candidato a um cargo político precisa dizer o que pensa dessa questão essencial: qual é o tipo de democracia” que quer em Portugal. O dirigente do PS lembra que Mário Soares “sempre quis uma democracia pluripartidária, de tipo europeu, civilista”. Nesse sentido, agora, é preciso que “os políticos sejam claros sobre os seus valores e sobre os seus princípios em relação à questão fundamental da liberdade e da democracia”.
Questionado sobre uma eventual candidatura do Almirante Gouveia e Melo à Presidência da República, o coordenador da Comissão Organizadora das comemorações do centenário de Mário Soares, lembra que, "num período em que havia uma certa ambiguidade em relação ao poder e à relação do poder civil com o poder militar”, o antigo Chefe de Estado e antigo primeiro-ministro “quis que os militares tivessem o papel que têm em democracia, que é a subordinação ao poder político legitimamente eleito”, uma posição com a qual diz concordar e que, sublinha, “é fundamental”.
Comemorações arrancam no Porto “a pensar no futuro”
As celebrações do centenário de Mário Soares começam, esta quinta-feira no Porto, com a inauguração de um Parque Urbano com o nome do antigo primeiro-ministro e Presidente da República, assim como com a abertura de uma exposição na Fundação de Serralves.
Em entrevista à Renascença, o coordenador da Comissão Organizadora das comemorações explica que a escolha do Porto não foi por acaso: “Talvez tivéssemos pensado num gesto que Mário Soares teve que foi, na véspera da sua posse como Presidente da República, pela primeira vez, veio ao Porto, que ele considerou sempre uma grande capital de liberdade”.
A exposição na Fundação de Serralves tem o título “O Sal da Democracia”, que é “uma frase que Mário Soares usou para dizer que a democracia é o regime que só se enriquece com o debate cultural, com o exercício do espírito crítico e com a abertura ao mundo da cultura, porque é o mundo da cultura que cria futuro”.
José Manuel dos Santos lembra que Soares “costumava dizer que aquilo que lhe interessava mais era o futuro, embora com a memória do passado”. Por isso, assume que pretende que estas comemorações evoquem “a figura, o testemunho e o exemplo de Mário Soares, mas sobretudo que cheguem às gerações mais novas para fazer aquilo que ele mais gostava de fazer: preparar e pensar o futuro”.