Caso o Orçamento de Estado para 2022 seja chumbado na quarta-feira, com os votos contra do PCP e Bloco de Esquerda, e Marcelo Rebelo de Sousa dissolva o Parlamento e convoque eleições antecipadas, a direita da Assembleia da República poderá sofrer uma reconfiguração significativa.
“Os únicos dois beneficiários [de eleições antecipadas] claros são o Chega e o Iniciativa Liberal. Mesmo as piores sondagens dão-lhes substancialmente mais do que tiveram em 2019”, aponta André Azevedo Alves, professor do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica, em declarações à Renascença. “Num cenário de eleições antecipadas, é quase ser certo que passarão de ter um deputado para ter um pequeno grupo parlamentar."
O barómetro de setembro da Intercampus dava ao PS 36,8% das intenções de voto, enquanto o PSD reunia 24,6%. Em terceiro lugar, aparecia o Bloco de Esquerda, seguido de perto pelo Chega com 8.6%. CDU e a Iniciativa Liberal fixavam-se nos 5,5%, o PAN nos 3,3%, o CDS em 1,4% e o Livre nos 0,4%.
Com o PSD numa situação de disputa interna e eleições diretas agendadas para 4 de dezembro, o cenário de eleições antecipadas – a realizar em janeiro de 2022 - é mais favorável para Rui Rio. “Mesmo admitindo que Marcelo possa estender um pouco o prazo, naturalmente que ganhar as eleições internas e avançar passado um mês ou mês e meio para eleições, não é fácil”, explica.
Ganhe Rio ou Rangel, todavia, o professor universitário não vê forma de o Chega não ter um “crescimento substancial”. E essa pode mesmo ser a grande mudança que se avizinha: “O Chega aparecer como a terceira ou quarta força política e tornar a partir desse momento quase inevitável uma reconfiguração de toda a direita portuguesa.”
Segundo André Azevedo Alves, “era expectável” que o PCP viabilizasse o OE, mas o “custo político” terá pesado. “De alguma forma, a posição do Bloco de Esquerda acabou por pressionar o PCP neste sentido”, diz. “Parece-me que à partida são os dois partidos que ficarão mais pressionados pelo argumento voto útil e pela instabilidade política e governabilidade no PS”, nota.
E acrescenta: “Há alguma ironia em acabar por ser o PCP e o Bloco de alguma forma a propiciar ao Chega umas eleições naquilo que é provavelmente o melhor momento para o Chega ir a votos.”