Vingar no mundo do futebol feminino nunca é fácil, mas a situação agrava-se quando o país em causa é o Afeganistão.
Para as jogadoras afegãs o sonho de poderem continuar a joga à bola desmoronou-se à mesma velocidade que o Governo afegão perante o avanço dos talibãs, em agosto.
Vendo os fundamentalistas islâmicos a tomar de novo o poder no país, estas atletas, muitas ainda jovens, perceberam que não poderiam permanecer. A questão não era apenas poderem continuar a jogar, era mesmo a sua sobrevivência. Muitas delas eram facilmente identificáveis como ativistas e defensoras dos direitos das mulheres e a confiança nas promessas dos novos governantes de que respeitarão as minorias e os opositores é escassa, se não inexistente.
A fuga do Afeganistão consumou-se, finalmente, ao final de várias tentativas frustradas. Juntamente com outras crianças e adultos – cerca de 80 pessoas no total – as 26 meninas, que têm entre 14 e 16 anos, foram sendo passadas de casa em casa, escondidas enquanto figuras como Robert McReary, que trabalhou no gabinete do Presidente George W. Bush e com forças especiais americanas no Afeganistão, e Nic McKinley, um ex-membro da CIA que agora gere um grupo humanitário para realojar afegãos, coordenavam um plano de fuga – Operação Bolas de Futebol – com aliados no terreno e com os próprios talibãs.
“Aconteceu tudo muito rapidamente. O nosso contacto no terreno disse-nos que tínhamos uma janela de cerca de três horas”, disse McKinley à Associated Press (AP).
Na retaguarda estava Farkhunda Muhtaj, capitã da seleção afegã feminina, que vive agora no Canadá e ajudou a coordenar a operação. Era ela quem falava com o grupo regularmente para manter a calma e dar-lhes esperança.
“O seu estado mental estava a deteriorar-se. Muitas estavam com saudades de casa, tinham saudades dos seus amigos em Cabul. Mas tinham uma fé inquebrantável e conseguimos mantê-las animadas.”
“Deixaram as suas casas e tudo o que tinham. Nem acreditam que já não estão no Afeganistão”, disse a jogadora à AP.
Quando o grupo foi informado que tinha uma janela de oportunidade para poder sair do país não hesitou. Conseguiram finalmente sair do Afeganistão a bordo de um voo charter, mas não podiam sonhar que o próximo destino seria a pátria de Cristiano Ronaldo, um ídolo para todas elas que agora esperam poder vir a conhecer.
À mesma agência McReary explica que “o mundo uniu-se para ajudar estas miúdas e as suas famílias. Elas são verdadeiramente um sinal de luz para o mundo e para a humanidade”.
A alegria da fuga das jogadoras foi sentida em várias partes do mundo, incluindo na Suécia, onde a ex-guarda-redes e treinadora da seleção feminina do Afeganistão vive desde 1996, quando os talibãs tomaram o poder pela primeira vez. “Agora elas podem voltar a sonhar. Podem continuar a jogar”, afirma.