Pinhal de Leiria. Um passeio pela mata real três anos depois do incêndio
15-10-2020 - 06:56
 • Teresa Paula Costa

Mandado construir por Afonso III (qui ça D. Sancho II) e alargado por D. Dinis, o emblemático Pinhal de Leiria perdeu-se para o fogo em outubro de 2017. O que resta desta mata com mais de 11 mil hectares?

Três anos após o grande incêndio na Mata Nacional de Leiria, muito está ainda por fazer. Em vésperas de aniversário do fogo de outubro de 2017, o geógrafo-físico José Nunes André acompanhou a Renascença numa viagem pelo Pinhal, mostrando exemplos dos casos mais emblemáticos.

Sobreiros plantados num aceiro

Primeira paragem: cruzamento da estrada de Pedreanes com a estrada da Garcia, no concelho da Marinha Grande. À direita, um aceiro – uma faixa de terreno aberta no tempo do Marquês de Pombal para impedir que qualquer incêndio que viesse de terrenos privados passasse para a Mata Nacional.

José Nunes André aponta para umas “árvores plantadas dentro deste aceiro, que devia estar limpo para desempenhar as funções protetoras”.

Em vez disso, está coberto de exemplares de sobreiros, dentro de pequenos tubos que lhes servem de abrigo. Uma espécie que não está adaptada ao clima do Pinhal de Leiria, defende o geógrafo. A prová-lo está o facto de os poucos exemplares que cresceram acima do topo do tubo se mostrarem secos, em consequência das condições climatéricas.

Campo de futebol invade aceiro

O pior, na opinião daquele membro do Observatório do Pinhal do Rei, encontra-se cerca de um quilómetro mais a norte: um campo de futebol, cujo muro entra, perto de uns dez metros, na área do aceiro, estreitando-o.

O marco com a sigla MN (Matas Nacionais) está lá ao lado, indicando o limite do aceiro… não respeitado. Uma construção que José Nunes André não consegue perceber como foi permitida, se é que o foi.

Um ribeiro de eucaliptos e acácias

Continuamos a viagem pelo Pinhal de Leiria e vamos até ao emblemático Ribeiro de S. Pedro de Moel. Antes do incêndio, a zona enchia-se de famílias que aproveitavam as sombras para fazer piqueniques nos fins de semana de Verão.

Agora, sem sombras, em muitas áreas descampado, o espaço tem outros ocupantes. José Nunes André aponta para “dezenas de eucaliptos” que se espalham ao longo do ribeiro, algumas “árvores majestosas, porque têm aqui bastante água, e cuja cápsula, aquando do incêndio, rebentou e espalhou as sementes de um lado e de outro do ribeiro”.

Agora, “em vez de dezenas de eucaliptos estão lá centenas de milhares, mais pequenas, ao longo do ribeiro”.

Como uma desgraça não vem só, há também as acácias, espécies altamente infestantes – salienta, preocupado, o geógrafo.

Corte de árvores vai destruir pinheiros recém-nascidos

Os problemas não se ficam por aqui. Ao longo do pinhal do rei, revela José Nunes André, “há milhões de árvores por cortar e, quando forem cortadas, o empreiteiro levará máquinas e não vai compadecer-se com os pinheiros que, entretanto, nasceram e se estão a desenvolver.”

“Vai com as máquinas e homens pisotear aquilo, e são mais uns milhares de árvores que vão embora”, lamenta.

Questionado sobre o que foi feito de positivo na Mata Nacional de Leiria, José Nunes André e perentório: “Nada!”

Por isso, questiona como tem sido gasto o dinheiro obtido com a venda da madeira queimada.