O número de casos de violência sexual contra crianças deverá ser este ano superior ao contabilizado em 2023, alerta a Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV). O ano passado, a organização registou 1760 crimes deste tipo.
Desde 2016 e até dezembro de 2023, a APAV já tinha apoiado mais de 3300 novas situações de violência sexual contra crianças e jovens. Até ao fim de 2024, poderemos continuar a ter um número crescente de pedidos de ajuda em comparação ao ano passado”, diz Carla Ferreira, responsável da rede CARE da APAV, lembrando que uma em cada cinco crianças é vítima deste tipo de violência.
Também a semana passada, a Comissão Nacional de Promoção dos Direitos e Proteção das Crianças e Jovens deu conta desta tendência de aumento do número de situações reportadas.
À Renascença, Carla Ferreira lembra que a maioria dos agressores são pessoas próximas aos menores e defende que é fundamental investir na prevenção.
“É importante pensar no antes. O que é que podemos fazer para termos profissionais mais capacitados? O que é que podemos fazer para termos crianças mais informadas e famílias mais informadas sobre este tema?”, diz.
"Está na hora de estruturar a dimensão formativa das pessoas adultas que interagem com crianças e jovens, para estejam mais capacitadas para identificar potenciais situações abusivas e também para que estejam mais capacitadas para agir de forma célere, efetiva perante uma situação de potencial violência sexual."
Inquéritos de vitimação para conhecer melhor a realidade
No Dia Europeu da Proteção das Crianças contra a Exploração e o Abuso Sexual, que se assinala esta segunda-feira, 18 de novembro, a APAV defende que se deveria fazer inquéritos de vitimação, em Portugal, para conhecer melhor a realidade.
“[O objetivo é] perguntar às pessoas sobre as suas experiências de vitimação, sobre as suas experiências de crime”, explica Carla Ferreira.
“Isso permite ter uma noção muito mais clara não apenas da criminalidade reportada, mas também da criminalidade não reportada, [dando] um olhar mais amplo, muito para lá daquilo que a APAV, as polícias, etc. podem registar, sobre as problemáticas que afetam a nossa população para, a partir daí, podermos desenhar políticas públicas de intervenção de forma mais direcionada.”