São vários os projetos do Banco Alimentar do Porto para recolher alimentos para doar aos que mais precisam e há cada vez mais famílias a recorrerem à ajuda.
A campanha habitual nos supermercados não se realizou devido à pandemia e para colmatar a falha das 270 toneladas que recolheria, a instituição tem em marcha várias campanhas.
“Temo-nos vindo a reinventar e temos criado novas ideias e novas soluções para recolher alimentos. E isso é fantástico, esta mobilização que estamos a fazer da comunidade e este caminhar conjunto que estamos a construir com a comunidade”, conta a responsável pela área de apoio social do Banco Alimentar do Porto, Inês Pinto Soares.
Neste contexto, em conjunto com os agrupamentos de escuteiros e as paróquias da diocese, está a decorrer a iniciativa “Escuta: é hora de agir!”. Até ao dia 18 de junho, a campanha irá recolher alimentos que, depois no dia 19 de junho, serão entregues pelos núcleos regionais da Diocese do Porto no Banco Alimentar do Porto.
Até ao final de junho decorre uma outra campanha nas escolas do distrito. Foram as próprias escolas a sugerir ao banco alimentar a colocação de pontos de recolha dentro dos estabelecimentos de ensino e a incentivar a comunidade educativa - professores, alunos, associações de estudantes e associação de pais - a doarem alimentos.
Em marcha está ainda um outro projeto designado “Porto d’Apoio”, direcionado aos voluntários do banco alimentar.
“Os nossos voluntários é que se propõem falar com família e amigos para trazerem alimentos para o Banco Alimentar do Porto. Esta recolha feita pelos nossos voluntários, que são cerca de 700, é uma recolha muito engraçada, porque forma-se uma rede de solidariedade bastante grande entre todos os voluntários que vão falando com as suas famílias e amigos e vai estar a decorrer até ao dia 22 de junho, 21 de junho é o último dia da campanha”, explica Inês Pinto Soares.
Falta massa, atum, leguminosas e bolachas
A responsável acrescenta ainda que mesmo fora das campanhas as pessoas podem doar alimentos ao Banco Alimentar do Porto e revela que neste momento há bens que começam a ficar em falta e que são essenciais para ajudar as famílias.
“O importante, neste momento, é receber massa, atum, leguminosas e bolachas que é o que no Banco Alimentar do Porto tem mais défice neste momento”, revela.
Questionada sobre a possibilidade de rotura de stock, Inês Pinto Soares afirma que não entram em rotura, frisando, no entanto, que se estes quatro produtos não entrarem no mês de junho, já não vão ter em quantidade suficiente para dar para cada família.
“Agora em junho têm que entrar esses quatro produtos, é muito importante que nós os consigamos angariar, para podermos, em julho, ter quantidade suficiente para doar a todas as pessoas que apoiamos, porque nós não podemos dar uma lata de atum por família, temos que pelo menos dar quatro ou oito latas de atum por família, por mês”, conta.
A responsável detalha que é preciso “olhar para números grandes de atum”, por exemplo. “Temos que ter em stock para conseguirmos doar a todas as famílias cerca de seis a sete toneladas de atum. Por isso estamos a falar destes números que são grandes e, por isso, é que todos os meses tem que haver angariação de alimentos”.
Chegam diariamente novos pedidos de ajuda
Ao Banco Alimentar do Porto, onde a preocupação e a esperança de conseguir ajudar os que, fruto da pandemia da Covid-19, mais precisam, chegam diariamente pedidos de ajuda e saem toneladas de bens para as instituições do distrito.
“Estamos a apoiar mais pessoas. Também estamos a reencaminhar mais pessoas para apoio. Todos os dias o serviço atende chamadas e recebe pedidos de apoio alimentar não só de pessoas, mas também de instituições e todos os dias nós tratamos destes pedidos”.
Neste momento, do armazém do banco do Porto saem mensalmente mais de 100 toneladas de alimentos secos para ajudar mais de 61 mil pessoas. Em lista de espera estão mais de 180 instituições que vão sendo ajudadas, sempre que existem “excedentes de bens alimentares”, nomeadamente frescos, e de forma rotativa.
A responsável pela área de apoio social do Banco Alimentar do Porto admite que já são muitas instituições em lista de espera.
“Não digo que todos os dias recebemos pedidos de instituições, mas recebemos mensalmente cerca de 10 pedidos de instituições”, avança Inês Pinto Soares.
De acordo com a responsável, a maioria das pessoas a pedir ajuda são “famílias na faixa etária ativa, normalmente com filhos, que tinham uma vida mais ou menos estável” e a “maioria delas sofreu cortes ou perda salarial”.
“Em termos de famílias, o que leva mais ao pedido é realmente a situação económica que resulta da pandemia. Há quebras de orçamento por causa dos lay-off, desemprego, fecho de empresas, porque também temos pessoas que eram donas de empresas e que também querem ajuda”, conta.
A crise nos setores da restauração e do turismo também está a levar várias famílias a situações de dificuldade e a recorrem à ajuda, o mesmo acontecendo com as “pessoas que viviam da cultura ou que viviam em empregos precários, onde não existia nada em termos de segurança social, não tinham contributos nenhuns à segurança social e, por isso, não têm tido apoios”.
As pessoas estão mais empáticas e solidárias
Apesar de a pandemia ter agudizado problemas e dificuldades, a responsável pela área de apoio social do Banco Alimentar do Porto nota também que a solidariedade ganhou um novo impulso e tem sido uma resposta concreta aos que mais precisam.
“Neste momento, o que nós sentimos é que as pessoas estão mais predispostas, mais empáticas e mais solidárias porque, de facto, a pandemia trouxe tempo para pensar, para olhar para o lado e isso vai trazer mais pessoas a quererem doar o seu tempo, doar o que têm para ajudar e para contribuir para ultrapassarmos estes desafios em conjunto”, sublinha.
A responsável encara, por isso, os próximos tempos como “um desafio que incita à ação” e valoriza a colaboração da comunidade do distrito do Porto, que se reflete também no aumento do número de voluntários.
“Isso é muito positivo, porque nos dá ainda maior esperança na humanidade e nas respostas comuns e mais cooperativas para nos ajudarmos uns aos outros”, refere, observando que o banco se tem vindo a reinventar e a criar novas ideias e novas soluções para recolher alimentos.
“Este caminhar conjunto que estamos a construir com a comunidade, aqui do distrito do Porto, é fantástico e ajuda-nos a passar esta mensagem de esperança, de união e de cooperação entre todos”, afirma Inês Pinto Soares, concluindo que a pandemia trouxe ao de cima “esta capacidade de nos reinventarmos, de olharmos para o lado e de a superarmos uns com os outros”.