Nem só de política se fazem cimeiras. No que toca à parte logística de encontros como o que esta semana decorre entre os líderes da NATO em Madrid, uma grande fatia da organização está afeta à comida e nem sempre é fácil acomodar todos os palatos.
Foi a isso que se propuseram os chefs José Andrés e Paco Roncero, estrelas Michelin, com os não dois, não dez, mas 15 pratos que confecionaram para os responsáveis máximos da Aliança, num jantar oferecido pelo rei Felipe VI de Espanha na noite de terça-feira, no Palácio Real.
A ementa contou com uma azeitona esférica para aguçar a fome, passou por pratos como um airbag de picanha, um creme de lavagante, uma tortilha de camarão, um naco de vitela, gaspacho com óleo de manjericão e uma pescada com molho meuniére, tapioca e ovos de truta.
Pelo meio, e antes de rematarem a refeição com uma espuma de coco com granizado de menta e maracujá, os líderes da NATO tiveram direito ao bem português pastel de bacalhau (com António Costa a representar Portugal sentado ao canto da mesa).
Contudo, não foi essa a delícia gastronómica que marcou esta cimeira. No recinto das reuniões e encontros, horas antes desse jantar de gala, diplomatas, jornalistas, governantes e outros participantes foram surpreendidos com uma escolha suis generis na ementa de refeições disponíveis para compra: uma salada russa.
Em circunstâncias diferentes, o prato não saltaria à vista. Mas esta não é uma cimeira qualquer: é o encontro em que os aliados transatlânticos declararam, a uma só voz, quea Rússia representa uma ameaça à sua integridade -- incluindo a Turquia, que aceitou finalmente desbloquear a adesão da Finlândia e da Suécia à aliança.
"Entre os jornalistas companheiros que vieram de outros países, a salada russa que está a ser servida como prato número 1 na cantina da Ifema durante a cimeira da NATO está a causar sensação", escreveu a repórter espanhola Belén Carreño Bravo no seu Twitter.
"A mistura de ervilhas, batatas, cenouras e maionese é um prato muito conhecido dos menus de restaurantes espanhóis, mas numa cimeira em que a Rússia deverá ser classificada como uma ameaça securitária sob o novo conceito estratégico da aliança, por causa da invasão [russa] da Ucrânia, a sua presença no menu está a causar consternação",indicou a Reuters no arranque dos encontros.
Com muita ou pouca consternação, o facto é que o prato (que de russo só terá o nome) esgotou em poucas horas. Em jeito de resposta, o chef José Andrés fez questão de incluir na ementa servida aos líderes da NATO uma tapa nova que já integra os menus dos seus restaurantes em Espanha: uma salada ucraniana.