As mulheres continuam a ser as principais vítimas das guerras e sub-representadas nas negociações diplomáticas, apesar de uma resolução da ONU de 2000 de proteção das mulheres em conflitos armados e de inclusão em processos de paz.
No âmbito do Dia Internacional da Mulher, que se assinala esta quarta-feira, a diretora da ONU Mulheres, Sima Bahous, fez soar "o alarme" durante um debate sobre "mulheres, paz e segurança" no Conselho de Segurança.
Em 31 de outubro de 2000, o Conselho adotou a Resolução 1325 sobre "Mulheres, Paz e Segurança", texto que "reafirma o importante papel das mulheres na prevenção e resolução de conflitos e em negociações de paz".
"Nos primeiros 20 anos (...) testemunhámos o início histórico da igualdade entre os sexos", reconheceu Sima Bahous.
Mas "não se alterou significativamente a composição das mesas de negociação de paz, nem se alterou a impunidade daqueles que cometem atrocidades contra mulheres e raparigas", lamentou.
Sima Bahous destacou o Afeganistão, onde os talibãs assumiram o poder em agosto de 2021, como "um dos exemplos mais extremos da regressão dos direitos das mulheres".
Também citou a guerra na Ucrânia, onde "as mulheres e os filhos representam 90% dos quase oito milhões de ucranianos forçados a partir para outros países".
Por seu lado, a embaixadora dos Estados Unidos na ONU, Linda Thomas-Greenfield, instou a comunidade internacional a "implementar plenamente a agenda 'mulheres, paz, segurança' à medida que se aproxima o 25.º aniversário da adoção da resolução 1325", em outubro de 2025.
À imprensa, a diplomata lamentou "a violência e a opressão enfrentadas por mulheres e raparigas em todo o mundo, como no Irão, Afeganistão, em áreas ocupadas pela Rússia na Ucrânia e em tantos outros lugares".
Em representação da França no Conselho de Segurança, a secretária de Estado da Economia Social e Solidária, Marlène Schiappa, anteriormente responsável pela pasta da Igualdade de Género, denunciou que "em todas as situações de conflito e crise (...) na Ucrânia, no Iémen, na Somália, as mulheres são particularmente afetadas, se não deliberadamente visadas, pela violência sexual e baseada no género".
"Apenas 28% dos acordos de paz contêm estipulações sobre o lugar das mulheres e nos últimos 25 anos, apenas 2% dos mediadores e 8% dos negociadores eram mulheres", criticou.
Aos jornalistas, Schiappa lamentou que os avanços nos direitos, graças ao movimento "#metoo" e à emancipação das mulheres, estejam a "ser invertidos", assistindo-se a um regresso "do patriarcado", inclusive nos Estados Unidos e na Europa.
A ONU está a realizar, desde segunda-feira e durante dez dias, a 67.ª sessão da Comissão sobre o Estatuto da Mulher, um organismo internacional do Conselho Económico e Social das Nações Unidas, em Nova Iorque.