Faltam médicos dentistas no Serviço Nacional de Saúde (SNS).
Só 1% destes profissionais é que trabalham no setor público.
O Explicador Renascença esclarece os motivos para esta falha no SNS.
Há poucos dentistas em Portugal?
Dentistas não faltam, até porque existem em Portugal cerca de 13 mil dentistas.
Só que, na verdade, apenas 150 estão a trabalhar em unidades do Serviço Nacional de Saúde.
Porquê?
Porque o problema não é a falta de profissionais. É a falta de condições para fixar estes profissionais.
Há muitas situações de falsos recibos verdes e o melhor exemplo disso é o facto de, dos cerca de 150 dentistas no Serviço Nacional de Saúde, a esmagadora maioria estar em regime de prestação de serviços.
Ou seja, a recibos verdes, sem direito a férias ou a subsídios e com remunerações que não chegam aos 1.000 euros.
E como é que compensam esse baixo salário?
Trabalhando no setor privado.
E muitos acabam por abandonar o setor público, porque as condições de trabalho nas clínicas privadas acabam por ser muito mais atrativas.
Há casos de emigração?
Também. E esse é um dado igualmente significativo: mais de metade dos dentistas que emigraram, tentaram primeiro exercer a profissão em Portugal.
O retrato foi feito através de um estudo encomendado pela Ordem dos Médicos Dentistas. Entre os médicos dentistas que emigraram, quase 60% dizem que não conseguiam ter um rendimento satisfatório, 49% não tinham um salário estável. E 32% não tinham contrato de trabalho.
Perante este quadro, o bastonário da Ordem dos Médicos Dentistas diz que o problema só se resolve com a criação da carreira de especialidade em medicina dentária, a par com mais investimento nestes profissionais.
Enquanto isso, os portugueses continuam a não ir ao dentista. Qual é o cenário?
Falta de acesso a tratamentos para uma boa parte da população. E por duas razões: por um lado, há poucos médicos interessados em ficar no SNS, o que aumenta as listas de espera.
Por outro lado, e porque muitos destes médicos dentistas migram para o setor privado, muitos portugueses ficam sem tratamentos, porque não têm capacidade financeira para custear tratamentos nas clínicas privadas.
E o número é revelador: cerca de 30% da população portuguesa nunca vai ao dentista, porque não tem dinheiro para o fazer.
E, ao nível da prevenção, como é que estamos?
De acordo com a Direção-Geral da Saúde, há bons resultados, sobretudo na população jovem, entre os sete e os 13 anos.
A taxa de tratamentos preventivos realizados no Serviço Nacional de Saúde subiu mais de 10% nos últimos seis anos. Isto explica-se com o acesso proporcionado pelos cheques-dentista e com o encaminhamento para consultas de higiene oral em centros de saúde. Mas ainda há muito a fazer nas políticas dedicadas à medicina dentária.
Os profissionais queixam-se que continua a ser uma das áreas mais desvalorizadas da saúde em Portugal.