As escolas públicas perderam mais de 300 mil alunos na última década, indica o relatório do Conselho Nacional de Educação, com dados de 2020, revelado esta quinta-feira.
O documento indica, também, que, nos próximos sete anos, a escola pública vai perder cerca de 20 mil professores que vão para a reforma e não vai ser fácil encontrar substitutos mais novos em número suficiente.
Por outro lado, a quebra de natalidade e o envelhecimento da população portuguesa – que se reflete, também, no corpo docente – vai contribuir para um agravamento da situação.
“É um grande problema, que tem que ser atacado muito rapidamente”, avisa a presidente do Conselho Nacional de Educação.
Em declarações à Renascença, Maria Emília Brederode Santos assinala que “a primeira coisa é estudando o assunto, porque os professores são formados de várias maneiras, conforme os níveis de ensino. Todos eles são, desde os educadores de infância aos professores do secundário, têm uma formação ao nível de mestrado”.
Por outro lado, a presidente do Conselho Nacional de Educação constata que “as pessoas não querem ir para professores, pois as escolas superiores de educação não tiveram este ano grande procura, porque havia a ideia de que há professores a mais”.
Carreira docente não é suficientemente atrativa
Segundo esta responsável, a carreira docente também não se mostra suficientemente atrativa para os jovens, dadas as baixas remunerações, sobretudo em início de carreira. E isso, diz a presidente do Conselho Nacional de Educação “devia ser revisto”.
Acresce a isso a mobilidade associada à profissão: “Claro que andar com a casa às costas é um problema, mas só se anda com a casa às costas porque se quer, ninguém os obriga. E se se candidatam para todo o país, podem ser colocados em todo o país”.
Uma as soluções defendidas pela presidente do Conselho Nacional da Educação, para o 3º Ciclo e Secundário, é permitir aos professores não se reformarem tão cedo, reduzindo, em contrapartida, a sua carga horária. E há, também. que corrigir as assimetrias entre o litoral e o interior, na formação de professores.
“Este ano, o que se verificou foi que as escolas superiores de educação do litoral não tiveram vagas suficientes para os candidatos que tinham, enquanto as escolas do interior ficaram com vagas a mais.
Se calhar, é preciso tomar medidas que orientem para essas situações mais específicas, quer com apoios de bolsas ou com incentivos ao alojamento”, propõe a presidente do Conselho Nacional de Educação.
FNE preocupada
Na frente sindical, as conclusões do relatório do Conselho Nacional de Educação são vistas com “muita preocupação”.
Em declarações à Renascença, o secretário-geral da FNE, João Dias da Silva, lamenta a inexistência de medidas para atrair os portugueses para a carreira docente
“Precisamos de fazer com que haja pessoas que têm formação para ser professores e que estão fora do sistema, atraí-los para voltarem a vir para a profissão docente.
Para isso, são precisas medidas de atratividade destas pessoas, renovando as suas condições de trabalho, as condições em que as pessoas são obrigadas, tantas vezes, a sair das suas residências para garantirem a oferta educativa”, conclui Dias da Silva.
Se, nos últimos 10 anos, houve menos alunos, por culpa da quebra da natalidade. João Dias da Silva alerta para o risco de se tirarem conclusões precipitadas: “não se pense que são necessários menos professores, por haver menos estudantes.”