Cerca de 30 manifestantes que participavam na Marcha pelo Clima, que decorre este sábado, em Lisboa, invadiram a sede da Ordem dos Contabilistas Certificados.
A Renascença confirmou que o ministro da Economia, António Costa Silva, se encontrava no edifício da Ordem naquele momento, tendo sido convidado para uma iniciativa naquele local.
Os ativistas foram retirados do espaço pelas autoridades e um cordão policial foi criado para proteger a entrada do edifício.
Pelo menos uma centena de protestantes estiveram à porta do espaço, na Avenida Defensores de Chaves, gritando "Fora, Costa Silva".
Um dos jovens manifestantes que entrou no edifício da Ordem, William Hawkey, explicou aos jornalistas que "havia manifestantes que tinham planeado entrar ou perturbar a reunião" onde participava Costa Silva. A decisão de mudar o percurso da marcha e passar pelo local onde se encontrava o ministro aconteceu porque viram naquele momento "uma oportunidade". "Entendemos que temos de continuar a lutar e não podemos perder uma oportunidade como esta. Se o visse na rua não ia ignorá-lo", indicou. "Não vamos deixar nenhuma oportunidade destas para trás. Estamos fartos de gritar. Queremos um futuro certo limpo", reiterou.
Um dos primeiros a entrar, o jovem permaneceu no espaço até ser retirado pela polícia e, apesar de ter entrado "em choque" naqueles "minutos super intensos", conseguiu perceber que nenhum dos manifestantes terá tido contacto direto com o visado. "Ele estava rodeado de colegas e escondeu a cara ao máximo", garante. Apesar disso, tem esperança que esta iniciativa dê frutos. "Acho que o ministro da Economia sentiu a nossa voz, sentiu o nosso sofrimento e espero que faça alguma coisa", pede.
Antes, Alice Gato, porta-voz do movimento da greve climática estudantil, explicava à Renascença que o edifício da Ordem dos Contabilistas não foi escolhido ao acaso para a manifestação. "Está a haver um evento lá dentro em que o ministro [da Economia] está a discursar. Estamos a pedir a demissão dele a semana inteira. Não houve um único pronunciamento", explicava, no auge da confusão.
"Neste momento os ativistas estão fartos da brutalidade contra eles, de não visualizarem o seu futuro e, por isso, vieram exigir a demissão do ministro e que as nossas reivindicações sejam atendidas", acrescenta, recordando que, para além da demissão de Costa Silva, os manifestantes também exigem o fim da utilização de combustíveis fósseis até 2030.
"O ministro da Economia, que esteve na petrolífera Frontex, continua a defender os interesses das petrolíferas e não está preparado para fazer a transição energética justa que a nossa sociedade, a nossa economia precisam", acrescentou.
Perante a confusão que se gerou entre polícia e manifestantes, Alice Gato reiterou que os manifestantes são "pacíficos". "Sempre fomos. Não agredimos ninguém. Não conseguimos controlar a violência por parte dos polícias", diz, recordando o que aconteceu na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, que culminou com quatro estudantes detidas e queixas de "brutalidade policial".
No meio da multidão, Ana Carvalho, uma das estudantes detidas, aproveitou para falar ao megafone. Garantiu manifestar-se pela "justiça social" e mostrou-se revoltada pelo que acontecera na FLUL. "Foram 12 polícias de choque para tirar quatro pessoas. Ontem foram quatro estudantes detidas por estarem a lutar pelo seu futuro porque a direção não ligou nenhuma às nossas reivindicações. O diretor da faculdade nem sequer se dignou a aparecer. Não deu a cara. Mas, ao contrário dele, nós estamos aqui, a dar a cara e a nossa voz por esta luta", rematou.
A marcha seguiu, depois, para o Instituto Superior Técnico. Deverá terminar no Liceu Camões, onde ainda se encontravam outros manifestantes em protesto.