Perante a crise, como financiar os meios de comunicação social e o jornalismo? Com ajuda ou sem ajuda do Estado? São as questões levantadas na tarde desta segunda-feira na conferência "Financiamento dos media", organizada pelo Sindicato dos Jornalistas, que está a decorrer em Cascais.
Perante uma plateia de profissionais do meio jornalístico Afonso Camões, administrador da Global Media (GMG), grupo privado de comunicação social que está a atravessar uma profunda crise financeira e em processo de reestruturação, deixou a pergunta no ar: "pode o Estado ajudar no atual estado de coisas?", dando a resposta logo de seguida que sim, "pode".
O administrador da GMG explicou como é que o Estado "pode ajudar, mesmo sem meter a mão", dando o exemplo da "via fiscal", considerando "essencial que o montante gasto em compra de notícias a grupos de comunicação social portugueses até um determinado montante passe a ser abatido aos impostos, como se faz com as causas solidárias", rematando com um "há alguma coisa mais solidária do que esta?"
Afonso Camões conclui que esta é uma " forma muito fácil de o Estado defender a liberdade de imprensa sem se intrometer no jornalismo", com o gestor a dizer que assim " trata-se de financiar os leitores em vez de financiar as empresas".
O gestor do grupo que integra o “Diário de Notícias”, o “Jornal de Notícias”, “O Jogo” e a TSF foi o primeiro a intervir no painel sobre os "modelos de negócio e de gestão", sem ter dito uma palavra sobre a gestão da GMG e a crise que atinge os trabalhadores que já tiveram mesmo, pelo menos uma vez, os salários atrasados.
Logo a seguir à intervenção de Camões, foi a vez de Ricardo Costa, diretor-geral de Informação da Impresa - de que fazem parte, por exemplo, o jornal “Expresso” e a televisão SIC -, grupo que também está em processo de reestruturação e em processo de rescisões amigáveis.
Numa posição radicalmente diferente em relação a Afonso Camões sobre como financiar os meios de comunicação social, Ricardo Costa disse que é "pouco ou nada favorável às ajudas diretas do Estado à comunicação social, nomeadamente ao jornalismo, exceto aos órgãos que detém e que existem para prestar um serviço público já contratualizado".
Mais direto, era difícil. E o diretor-geral de Informação da Impresa acrescentou que "é possível e desejável que se criem projetos de literacia em que os órgãos de comunicação sejam parte integrante, podem testar-se soluções em que permitam os leitores mais jovens terem assinaturas de órgãos de comunicação social".
Para final de intervenção, Ricardo Costa disse que vê "com extremo ceticismo e até desconfiança a ajuda direta de financiamento" por parte do Estado, deixando a questão sobre como é que isto se "poderia processar, com que critérios, com que objetivos e sobretudo sem que isso aumentasse ainda mais a desconfiança que existe sobre a relação do jornalismo com a política".
Na mesma linha de pensamento foi o director do jornal “Público”. Manuel Carvalho disse mesmo que estar "dependentes do Estado" é algo que o "assusta".
Considerando "absolutamente indesejável" qualquer financiamento direto do Estado, Manuel Carvalho disse que tal poderia pôr em causa a "imagem contaminada da independência" dos jornais, concluindo que "não há almoços grátis".
Tal como Ricardo Costa, o diretor do jornal “Público” considera que é preciso encontrar "fórmulas alternativas" de financiamento da comunicação social, "incentivos de natureza fiscal" ou ainda "campanhas de literacia mediática", iniciativa que o jornal “Público”, de resto, já começou a promover nas escolas.
A conferência "Financiamento dos media" dura até esta terça-feira e será encerrada pelo Presidente da República ao final da tarde.