O Patriarcado de Lisboa é uma “honra para Portugal”, comparável em termos mundiais às distinções no futebol ou no cinema, defende o investigador Luís Salgado Matos numa obra comemorativa dos 300 anos da instituição.
O livro “O Patriarcado de Lisboa. Três séculos de uma instituição lisboeta, nacional e católica (1716-2016)” propõe “uma nova interpretação do Patriarcado de Portugal, articulando-o com o passado e o futuro do nosso país”, disse o autor à agência Lusa. “As suas teses desafiam tanto católicos como não católicos”, sublinha.
“O Patriarcado de Lisboa é fonte de distinção para Lisboa e para Portugal. O nosso país só beneficia de distinções mundiais comparáveis no futebol e na produção de filmes”, disse Salgado Matos na apresentação da obra.
Na Europa Ocidental, além de Lisboa, só Veneza tem a qualidade patriarcal e, no mundo, há apenas dez Patriarcados incluindo o lisbonense.
“A palavra Patriarcado tem um ressaibo misterioso”, afirma Luís Salgado Matos, referindo que “evoca dias de glória mundial do nosso país, ligados à formação do Brasil”, tendo sido graças ao seu ouro que D. João V pôde constituir uma armada que várias vezes foi em socorro do Papa contra os turcos.
“Mas”, ressalva o autor, a palavra “evoca também dias sombrios, quando a Inquisição queimava pessoas nas praças de Lisboa”.
O autor questiona se a qualidade patriarcal não estará ultrapassada, e é contrária ao espírito do Concílio Vaticano II (1962-65), pois a palavra "reacende a pompa, a luxo", e refere que o Patriarcado “conheceu momentos de crise e decadência”, e sua existência foi até ameaçada, nomeadamente em 1823, quando os liberais pretendiam a sua extinção, mas prevaleceu o argumento do cardeal Consalvi, segundo o qual "é uma fonte de honra para Portugal".
A obra, afirmou o autor, que “atreve-se a propor uma breve síntese do Patriarcado de Lisboa”, traçando “as grandes linhas do que foi e é” na vida do país “em interacção com o pulsar do catolicismo”.
Isto é, esclarece o autor, “uma interpretação do Portugal moderno e, em segundo lugar, do papel que nele desempenha o catolicismo”
A construção desta obra “obrigou a recolher informação e aprofundar reflexões sobre a instituição”, fazendo Luís Salgado Matos referências a recolhas documentais, como a do Monsenhor José de Castro, ou a diferentes monografias, além da consulta em arquivos. O período temporal e a generalidade dos temas abordados é uma “vastidão”.
O Patriarcado de Lisboa foi criado por bula do Papa Clemente XI, em 7 de Novembro de 1716. O actual Cardeal Patriarca D. Manuel Clemente afirmou várias vezes que esta categoria não distingue a diocese de Lisboa das outras dioceses do país, pois cada uma responde por si ao Papa, mas realçou o seu espírito de missão e evangelização, de "ir ao encontro do outro".