Cerca de 70 a 80 crianças são tiradas das ruas, por ano, na zona de Lisboa, onde atua o Projeto Rua, do Instituto de Apoio à Criança.
Na data em que se assinala o Dia Internacional da Criança de Rua, a responsável pela equipa do centro de desenvolvimento e inclusão juvenil, Conceição Alves, diz que este fenómeno “deixou de ser tão visível, mas continua a existir”.
Em declarações à Renascença, a responsável pela equipa de desenvolvimento de inclusão revela que, nos primeiros anos, o Projeto Rua, criado em 1989, “conseguiu dar novas perspetivas de vida a 600 crianças que viviam na rua, e explica que hoje “o panorama é diferente, graças ao sistema de promoção e proteção mais robusto”.
Ainda assim, este é um cenário que existe e que é “transversal a todas as classes sociais”. Conceição Alves alerta que as crianças de rua são “quase invisíveis” e cada vez mais difíceis de identificar. Ao mesmo tempo, “têm uma maior mobilidade na cidade e deslocam-se com muito mais facilidade, de metro ou até de uber”, o que faz com que não sejam encontradas tão facilmente.
“Se no passado a situação de pobreza era um dos motivos pelo qual as crianças efetuavam fugas, agora a realidade é bastante diferente”, esclarece. A responsável pelo desenvolvimento e inclusão aponta a “procura de aventura e risco, a tensão e conflito familiares, a pressão de pares e a não aceitação da medida de acolhimento”, como razões que levam à fuga das crianças e jovens que são, maioritariamente, raparigas entre os 15 e os 18 anos, sobretudo, oriundas da linha de Sintra - Amadora, Queluz.
Conceição Alves explica que a maioria destas crianças estão “em situação de vulnerabilidade ou condicionadas por vivências que não favorecem o seu crescimento" e, muitas vezes, “recorrem às casas de amigos, de bairro em bairro para pernoitar, em situações precárias, às vezes até exploradas por adultos.”
Nesse sentido, o Projeto Rua, respeitando “o ritmo de cada um”, desenvolve “um acompanhamento contínuo” às crianças, para prevenir e "acautelar os riscos de haver novas fugas”. “Muitas vezes os jovens não se limitam a fazer só uma fuga, existem fugas recorrentes. Precisam de um trabalho de acompanhamento estável”, esclarece.
O Projeto realiza “giros diurnos e noturnos” para sinalizar e acompanhar as crianças, de forma a estabelecer uma “relação de confiança” e, da mesma maneira, atuar “de forma integrada com as famílias e com as comunidades em que residem."
No entanto, “ainda há muito por fazer”. Conceição considera “necessário adotar medidas mais assertivas e adequadas à realidade, com mais centros de acolhimento e uma resposta mais eficaz na saúde mental”.
A responsável pela equipa do centro de desenvolvimento e inclusão juvenil alerta para a necessidade de sinalizar estas crianças através da linha de apoio do Projeto Rua - 116.000 - , um número “anónimo e para o qual qualquer cidadão deve ligar para identificar situações de desaparecimento”.