O Reino Unido encontra-se novamente envolvido numa polémica sobre os cuidados em final de vida. Depois de dois casos envolvendo os bebés Charlie Gard e Alfie Evans, agora é um homem de meia-idade, natural da Polónia, que se encontra em coma e a quem o hospital de Plymouth decidiu retirar o suporte artificial de vida.
O cidadão polaco foi identificado apenas como R.S. pelo hospital, mas a imprensa polaca refere-se a ele como Slawomir. No dia 6 de novembro sofreu um ataque cardíaco durante 45 minutos que o deixou com danos físicos e cerebrais irreversíveis.
Sem esperança de recuperação, o hospital de Plymouth, onde se encontra internado, pediu autorização à sua mulher para desligar o suporte artificial de vida, o que foi aceite. Contudo, a mãe e a irmã do cidadão, que se encontram na Polónia, procuraram intervir para que as máquinas não fossem desligadas.
Mais do que a decisão sobre o suporte artificial de vida, contudo, está em causa a decisão do hospital, em linha com as orientações de saúde britânicas codificadas no protocolo “Liverpool Care Pathway” para pacientes em final de vida, que decidiu retirar-lhe também a nutrição e a hidratação, assegurando assim que o doente acabe por morrer de desidratação ao fim de algum tempo.
Perante este cenário, e argumentando que R.S. era um católico que se opunha fortemente a qualquer medida que pudesse encurtar a vida, o Governo polaco pediu a transferência do doente para a Polónia para poder dar seguimento aos tratamentos e evitar a sua morte.
“A vida não tem preço, é sagrada, da conceção até à morte natural. Isso está assegurado na nossa cultura, tradição e fé. Os polacos devem ter a certeza de que quando vão para o estrangeiro o Estado não lhes virará as costas. A civilização da vida é isso mesmo e eu confio que ela triunfará sobre a civilização da morte”, afirmou o ministro da Justiça, Marcin Warchol, em declarações à imprensa polaca.
Do lado da Polónia já está tudo em ordem para garantir a transferência de R.S. a quem foi emitido um passaporte diplomático, mas tudo depende de uma resposta positiva das autoridades britânicas. Olhando para casos recentes, contudo, incluindo os de Charlie Gard e de Alfie Evans, não é natural que o Governo ou os tribunais do Reino Unido acedam a esse pedido.
O caso de Alfie Evans, um bebé com menos de dois anos de idade, era muito semelhante e o próprio Vaticano chegou a pedir a sua transferência, depois de o Governo italiano lhe ter atribuído cidadania, mas foi recusado pelos tribunais britânicos.
Bispos insistem que hidratação é cuidado básico de vida
A Conferência Episcopal de Inglaterra e País de Gales também interveio na discussão, pedindo às autoridades de saúde que não interrompam a hidratação e alimentação do doente.
Os bispos consideram que esses não devem ser considerados cuidados médicos que possam ser interrompidos.
A carta é dirigida ao ministro da Saúde, Matt Hancock, e é assinada pelos bispos John Sherrington, responsável pelos assuntos de defesa da vida para a conferência episcopal, e pelo bispo Mark O’Toole, de Plymouth.
“Fornecer comida e água a doentes em estado muito grave, mesmo que de forma assistida, é um cuidado básico”, escrevem os bispos, “que deve ser fornecido sempre que possível, a não ser que haja uma indicação médica de que se está a provocar sofrimento ou que não esteja a cumprir o efeito desejado”.
Os dois bispos referem ainda que R.S. “nunca recusou alimento e fluídos nem expressou qualquer opinião sobre não desejar comida e fluidos nestas circunstâncias e que não existem quaisquer provas de que ele considerasse que a nutrição e a hidratação são uma forma de tratamento médico”.
Nesse sentido, os bispos pedem que seja autorizado o transporte de R.S. para a Polónia para poder dar seguimento ao seu tratamento na sua terra natal.