Os traumas causados pela guerra em cerca de 10 milhões de pessoas na Ucrânia é das preocupações principais das equipas humanitárias no terreno, a par da aproximação do inverno gélido, disse esta terça-feira a coordenadora residente das Nações Unidas.
Num 'briefing' sobre a situação humanitária na Ucrânia em Nova Iorque, organizado pelo Escritório de Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA, na sigla em inglês), Denise Brown afirmou que o trauma é uma das novas grandes dimensões da guerra da Rússia na Ucrânia, sendo que cerca de 10 milhões de pessoas precisarão de algum tipo de apoio nesse sentido.
"O trauma será a nova batalha. Diferentes níveis de trauma, seja em relação a soldados desmobilizados, crianças que ouvem as sirenes de bombardeamentos todos os dias, ou apenas pessoas regressando aos seus trabalhos. Temos mesmo de manter esta questão no radar", apelou a coordenadora da ONU.
Muitos idosos na Ucrânia, adiantou, estão "completamente confusos com o que está a acontecer".
Brown afirmou que outra das preocupações que lhe "tira noites de sono" é a aproximação do inverno e as suas consequências para os ucranianos que têm as suas casas destruídas, sem formas de se aquecer.
"Não vamos conseguir chegar a todo o lado. É preciso roupa de inverno, cobertores, colchões, comida, geradores de energia. Coisas muito básicas e que todos vão precisar para um inverno seguro. Mas os danos nas infraestruturas, que atingiram geradores de energia, não é algo a que a ajuda humanitária possa chegar. É preciso ajuda dos Estados-Membros", disse.
A canadiana, que é também coordenadora humanitária na Ucrânia desde julho último, frisou perante o corpo diplomático presente na reunião que falta de dinheiro não é o problema, uma vez que foi "alcançada uma ajuda financeira enorme" em prol dos ucranianos.
Por resolver está o acesso às pessoas que estão em locais não controlados pelo Governo ucraniano.
"A guerra não acabou e a emergência humanitária não acabou. Pela primeira vez, não tive de me focar na recolha de fundos, o que me permite focar noutro tipo de trabalho. (...) Isto é diferente: não tem a ver com secas, com colheitas falhadas, mas com uma guerra que mata pessoas. A destruição é total em alguns locais, não sobrou nada", observou.
"Há uma semana uma explosão aconteceu a pouco mais de um quilómetro do meu escritório na Ucrânia. Nós [equipas humanitárias] estamos na mesma situação que muitas pessoas, mas a ONU não sairá da Ucrânia", garantiu.
Joyce Msuya, secretária-geral adjunta para Assuntos Humanitários e vice-coordenadora de Ajuda de Emergência do OCHA, alertou que a assistência humanitária apenas tem sido entregue em locais controlados por Kiev, sendo que a ajuda não está a alcançar os locais dominados pelas tropas russas, uma vez que não é garantida a segurança às equipas humanitárias.
"A situação irá piorar à medida que os bombardeamentos continuam e o inverno se aproxima", avaliou Msuya.
"Apelo ao pleno respeito ao direito internacional humanitário em todas as operações militares - tomando cuidado constante para poupar civis e bens civis, incluindo infraestruturas essenciais", acrescentou.