Os blocos de partos dos hospitais de Aveiro e Guimarães estão encerrados esta segunda-feira devido ao protesto dos enfermeiros especialistas contra a falta de pagamento desta especialidade.
A informação é avançada pela bastonária da Ordem dos Enfermeiros. Ana Rita Cavaco adiantou que outros blocos de partos não encerraram, mas estão a funcionar com enfermeiros tarefeiros ou apenas com médicos.
A bastonária deslocou-se esta segunda-feira ao hospital Amadora Sintra, em Lisboa, onde estará apenas a trabalhar um enfermeiro tarefeiro, dado que 21 dos 23 enfermeiros especialistas em saúde materna e obstetrícia se escusam a prestar esta especialização.
Para Ana Rita Cavaco esta situação "põe em causa a segurança da mãe e das crianças".
A bastonária lançou um apelo ao Presidente da República, referindo que as "ordens da saúde já pediram ajuda, porque o país não pode continuar a ignorar que a saúde tem problemas graves de segurança".
"Esta situação [dos enfermeiros especialistas] é uma vergonha para o ministro da Saúde, para o Governo e até o primeiro-ministro está calado", salientou.
Grávidas transferidas
Já a urgência de obstetrícia do Hospital São Bernardo, em Setúbal, está a ser assegurada por médicos devido à recusa de prestação de cuidados diferenciados pelos enfermeiros especializados em obstetrícia.
"O serviço de urgência de obstetrícia está a ser assegurado pelos médicos, porque não há nenhum enfermeiro especialista em saúde materna e obstetrícia a prestar cuidados diferenciados", disse Adriana Taborda, que integra o Movimento Enfermeiros Especialistas em Saúde Materna e Obstetrícia (EESMO).
Este movimento decidiu recusar, a partir desta segunda-feira, a prestação de cuidados diferenciados em protesto contra o não pagamento desta especialidade.
Também as grávidas que pretendem fazer interrupções voluntárias de gravidez estão já a ser transferidas, para a Clinica dos Arcos, em Lisboa.
Segundo Adriana Taborda, o bloco de partos do Hospital São Bernardo está a funcionar normalmente, uma vez que os dois enfermeiros especialistas de serviço, um deles a prolongar o turno da noite devido à falta de um/a colega, têm contrato de especialista e são pagos como tal.
Mais a norte, as grávidas de risco internadas no Centro Hospitalar Gaia/Espinho estão a ser acompanhadas apenas pela enfermeira-chefe, que habitualmente não tem utentes atribuídas.
Em declarações à Renascença, o presidente da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares, Alexandre Lourenço, admite que poderá haver situações pontuais de médicos que estarão a assegurar os cuidados diferenciados normalmente prestados por enfermeiros especialistas. "Mas o mais importante é que os serviços continuam a ser garantidos, nem que seja por via do reforço das equipas médicas para garantir que todas as grávidas têm a assistência devida", diz.
No entanto, este responsável sublinha que "num universo de mais de 50 instituições do Serviço Nacional de Saúde, o impacto desta greve de zelo é muito reduzido".