A partir de março, o controlo da velocidade em Lisboa vai apertar com mais radares em vários pontos estratégicos da cidade. Os equipamentos estão a ser instalados e em fase de testes.
Ao todo, são 41 novos radares, 21 dos quais vão substituir os que já existem. Os restantes vão ser instalados em locais onde atualmente não há controlo. Destes, a maioria não está, pelo menos para já, devidamente identificada. Aliás, muitos parecem escondidos dos automobilistas.
Os novos equipamentos são totalmente diferentes dos que agora existentes: conseguem detetar infrações de diferentes veículos e controlar até seis faixas de rodagem, além de terem maior alcance e de recolherem informação mais precisa, como velocidade, distância e posição. Podem ainda registar a passagem de sinais vermelhos ou traços contínuos.
Alterar as vias, defendem Auto-Mobilizados
A instalação de mais radares não agrada à Associação de Cidadãos Auto-Mobilizados, para quem “o problema de fundo” é a razão pela qual “os condutores circulam em velocidade excessiva em certas zonas do interior da cidade”.
Manuel João Ramos, desta associação, reconhece que “há uma cultura da velocidade, que há um domínio do automóvel”, mas considera que “ele é induzido e foi sempre induzido pela própria autarquia”.
Na sua opinião, há zonas que "puxam" pela velocidade, como as “vias rápidas com faixas largas, vias em linha reta” – são “um indutor à velocidade e os automobilistas, muitas vezes, reagem mais às condições da via e ao tipo de via do que às regras do trânsito”.
Nesse sentido, este responsável defende que se deve promover a redução da velocidade através da “alteração das condições das vias” e “não por via dos radares; não usar os radares como política de redução da velocidade”.
Não chega multar, diz PRP
José Manuel Trigoso, presidente da Prevenção Rodoviária Portuguesa (PRP), lembra que a fiscalização da velocidade através de radares não é nem deve ser a única forma de gerir a velocidade numa cidade. E a aplicação de coimas não chega.
“Não deve ser suficiente a aplicação de uma coima e de uma inibição de conduzir, mas acrescentar um tipo específico de formação adequada, para que as pessoas percebam o risco que correm e fazem correr a prática de velocidades inadequadas a cada local”, defende, em declarações à Renascença.
O dirigente da PRP defende que “a gestão da velocidade é um instrumento fundamental para reduzir a sinistralidade rodoviária”, mas sublinha que “a fiscalização através de radares é uma das ferramentas que deve ser utilizada, não a única”.
Caça à multa, dizem automobilistas
Os condutores não entendem o limite de velocidade máxima em alguns locais da cidade, sobretudo em vias rápidas.
"Não andar a mais de 50 quilómetros/hora em algumas vias rápidas na Grande Lisboa não tem sentido", diz Conceição Marques, condutora de TVDE. "Onde é que se anda a 50 na Segunda Circular? Só onde está o radar. Não tem lógica, é a caça à multa”, contesta.
Numa estação de serviço junto à Avenida Santos e Castro, paralela ao aeroporto e de ligação de Alvalade ao Eixo Norte-Sul, Paulo Santos já percebeu que andam a colocar radares em vários locais da cidade.
"E em alguns desses locais não colocaram os sinais de limite de velocidade. Como é que eu sei a que velocidade devo andar?", questiona este motorista profissional, que lamenta a existência daquilo que considera serem rasteiras.
"Há certos e determinados locais que têm um sinal de 80, outro de 90 poucos metros à frente e logo depois um sinal a indicar os 50 quilómetros/hora de velocidade máxima. Por isso é que eu digo que é caça à multa. É um negócio", considera.