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Um tropeção na reta final da corrida até às eleições. A caravana do PAN balançou com força esta terça-feira, depois de os dois deputados da assembleia municipal de Faro terem anunciado a desfiliação do partido, acusando a direção de “desnorte” e de abdicar de causas políticas por “migalhas e acordos opacos à esquerda e direita”.
À porta do Estádio Nacional do Jamor, em Oeiras, Inês Sousa Real respondeu na mesma moeda e disse que o PAN “não é uma associação de amigos, mas sim um partido com órgãos de direção”. E enquanto dava a sua versão da história, a atual líder aproveitou para colar este conflito ao antecessor, André Silva.
“Lamentamos este oportunismo em termos de timing, perto de um ato eleitoral. Sabemos que estas pessoas faziam parte de uma corrente interna também ligados à saída do antigo porta-voz do PAN e recordo que a nossa democracia interna está viva, quer a nível nacional quer a nível local, e as pessoas, mais do que saber ganhar, têm de saber perder”, detalhou.
Porém, a entrevista de André Ventura à RTP na última segunda-feira parece ter ajudado Inês Sousa Real a desviar as atenções de uma possível imagem de desunião entre os ambientalistas. A porta-voz do PAN espera “não amanhecer a 11 de março sem ser num Estado de direito democrático”, mas admite “não estar surpreendida” com as hipóteses de entendimento levantadas pelo presidente do Chega.
Sousa Real insiste que esta é só mais uma prova do “extremar da agenda da Aliança Democrática” e do “erro” de Luís Montenegro em coligar-se ao CDS-PP e ao PPM.
Ainda nas acusações políticas, desta vez nem o PS ficou de fora da mira de Sousa Real. Depois da troca de palavras entre Luís Montenegro e um ambientalista sobre a plantação de eucalipto, a líder do PAN colocou a AD e o PS no mesmo saco quanto a política ambiental.
“Nós precisamos de ter um país onde tenhamos um território mais resiliente, com menos eucalipto, mais árvores bio diversas no nosso território. Não nos podemos lembrar só nos grandes incêndios que há um prejuízo a colmatar. Temos de ter políticas públicas alinhadas com este desafio e claramente um voto no PSD ou no PS terá precisamente o mesmo ‘efeito eucalipto’: vai secar todo o nosso território e as políticas públicas”, defendeu.
Dedicação plena ao partido, bola para a frente com as críticas
E neste aparente esforço de travar a alteração no clima interno do partido – e de não prejudicar a possibilidade de recuperar um grupo parlamentar –, Inês Sousa Real pareceu destacar da agenda do PAN os temas que “ficaram de fora dos debates televisivos”.
Logo de manhã, à saída de uma reunião com a Confederação Desportiva no Estádio do Jamor em Oeiras, a líder do partido apontou a necessidade de aumentar a relevância dada ao desporto, “que é uma ferramenta de promoção da saúde, mas também de inclusão na nossa sociedade”. Por isso, a porta-voz do partido pediu mais aulas de educação física, uma revisão do Estatuto de Dirigente Desportivo e um reforço dos apoios para os atletas portugueses que competem nacional e internacionalmente.
Já no Hospital Pulido Valente, em Lisboa, o PAN prometeu mais atenção para os técnicos superiores de diagnóstico e terapêutica, já que “muito se tem falado sobre a valorização dos médicos, mas não nos podemos esquecer que o SNS é integrado por diferentes profissionais”.
E quando questionada sobre o número de adesões ao regime de dedicação plena, Sousa Real disse ver com bons olhos uma possível expansão desta opção para outras carreiras – defendeu que é uma boa hipótese para “combater a falta de recursos” e aproveitou para voltar a criticar a direita, desta feita sobre as proposta do cheque-saúde.
“Não é com cheques ou vales de saúde que o problema vai ser resolvido, porque isso não resolve nem a precariedade destes profissionais, nem a falta de condições. É através de mecanismos que garantam não só uma valorização salarial, mas também outras formas de incentivo – por exemplo, através da aposta na inovação e nas diferentes especialidades, para reter talento no país”, rematou.