Portugal está “hoje, garantidamente melhor, enquanto Estado” para responder a situações de grandes incêndios que “infelizmente vivemos no passado”. A garantia foi deixada pela secretária de Estado da Proteção Civil, Patricia Gaspar, numa conferência esta segunda-feira no Ministério da Administração Interna, onde foi anunciado o concurso público para o SIRESP.
Questionada pela Renascença sobre as declarações da Apiflor, associação que junta 600 proprietários florestais locais, que denuncia que desde os incêndios de Pedrógão Grande, em junho de 2017, não foi feita uma verdadeira reforma na floresta, Patrícia Gaspar lembra que esse é um “processo complexo”.
“Há já muitas alterações. Temos mais profissionalização na área dos bombeiros, mais especialização, mais conhecimento. Obviamente que na área do ordenamento florestal, não sendo uma área tutelada por este ministério, é algo que leva tempo. Os resultados não são visíveis nem a dois, nem a três, nem a quatro anos. Vamos precisar de mais tempo”, atira a governante.
Mas o facto de não ser uma transformação rápida, não impede o Governo de prometer uma maior preparação para evitar que existam incêndios como em 2017. “Temos confiança nos dispositivos que temos montados. (...) Não conseguimos evitar determinado tipo de ocorrências, mas conseguimos, e temos essa obrigação de mitigar o seu impacto.”
Ao lado do ministro da Administração Interna, José Luís Carneiro, a secretária de Estado da Proteção Civil sublinhou que “por mais que se trabalhe, sabemos que o risco zero não existe”.
Patrícia Gaspar admite que “a crise climática” agrava o risco de incêndio no “mundo”, não só em Portugal, e é por isso que a aposta do investimento tem sido virada para a prevenção dos fogos, e menos para o combate.
A secretária de Estado reforça a redistribuição que tem sido feita nesse sentido. “Recordo que antes de 2017, nós tínhamos um rácio de 20% na área da prevenção e 80% no combate. Neste momento estamos quase 50/50”, afirma Patrícia Gaspar.
A prova disso, diz a secretária de Estado, é o número de ocorrências registadas. “Anos em que tínhamos, num verão normal, 300 ou 400 ocorrências por dia. Agora, em circunstâncias normais, raramente excedemos as 100 ou as 150”, aponta Patrícia Gaspar.
O Governo ressalva também que essa diminuição, além de se dever à prevenção, deve-se também à “apreensão dos portugueses da adequação do seu comportamento junto do espaço florestal”.
Quanto à reforma da floresta, Patrícia Gaspar reforça que há um “sistema novo, a 10 anos” e pede por isso “tempo” para que “os resultados se possam ver”.
SIRESP vai ter investimento de 150 milhões de euros
O Sistema Integrado de Redes de Emergência e de Segurança de Portugal (SIRESP) vai ter um investimento de 150 milhões de euros nos próximos cinco anos, 75 milhões dos quais correspondem ao valor do concurso público internacional, anunciou esta segunda-feira o ministro da Administração Interna.
"Estamos a falar de um concurso de 75 milhões de euros, a que acrescerá um investimento na ordem dos 36,5 milhões de euros a lançar pela secretaria-geral e com recurso a financiamento do PRR [Plano de Recuperação e Resiliência]. A este valor, deverá ainda ser adicionada uma outra verba destinada ao seu financiamento e permanente atualização, que estimamos em 38,5 milhões de euros", disse José Luís Carneiro.
Na conferência de imprensa de apresentação do concurso público internacional para o fornecimento de serviços ao SIRESP, o ministro avançou que "todos estes valores serão investidos ao longo dos próximos cinco anos".