Portugal está “muito provavelmente” a entrar no pico da sexta vaga da pandemia e não chegará, nem perto, à média de 60 mil casos diários que a ministra da Saúde, Marta Temido, previu na semana passada para o final deste mês de maio.
A conclusão foi avançada pelo epidemiologista Manuel Carmo Gomes, que aponta, em declarações à Renascença, que a média diária de casos na última semana foi de cerca de 27 mil e “não vai chegar sequer aos 35 mil”.
“Neste momento, já desacelerámos a subida e estamos, muito provavelmente, a entrar no pico desta vaga. Portanto, não vamos chegar àqueles números de 50mil/60 mil casos de média diária. Não quer dizer que não haja um dia ou outro que possa ter mais, mas a nossa média diária está neste momento em 27.380 casos e não vai chegar sequer aos 35 mil. Portanto, estamos agora a entrar no pico desta vaga”, diz o investigador da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.
A incidência da pandemia a sete dias está atualmente nos 1.835 casos por cada 100 mil habitantes, tendo registado duas descidas nos últimos três dias, com o pico a ter acontecido, até ao momento, na passada sexta-feira, 20 de maio, em que a média diária de casos chegou aos 27.594.
Ainda assim, Carmo Gomes admite não saber por quanto tempo poderá o país “pairar no pico”, apontando que períodos como o de Santos Populares, em junho, podem causar um “recrudescimento da infeção”, com a estabilização do número de casos a ser precedida por uma descida do número de casos, como aconteceu noutros países.
Mortalidade e internamentos ainda estão a subir
Apesar dos casos parecerem terem chegado ao pico desta vaga, o número de mortes continua a subir e foram registados quatro dias consecutivos com mais de três dezenas de vítimas mortais da covid-19.
“Logo que o número de casos diários comece a baixar, começam também a baixar os óbitos e internamentos hospitalares, que, neste momento, em enfermaria, ainda estão a subir. Temos em enfermaria cerca de 1.700 pessoas internadas, o que representa um aumento”, indica Carmo Gomes.
Um aumento bastante substancial. No relatório semanal divulgado pela DGS, o número de internados no início de maio era de 1.059, registando uma subida de 60% em cerca de três semanas. No último estavam registados 1.366 internados em enfermaria, o que implica uma subida de quase 350 internamentos numa semana.
Nos cuidados intensivos Portugal tem, neste momento, 95 pessoas, o que também representa um aumento em relação aos 85 internamentos em UCI registados na semana passada e aos 60 registados no início de maio.
O que deve Portugal fazer para conter esta ou outras vagas no futuro?
Na opinião do especialista, devido ao vírus da covid-19 não ter a mesma sensibilidade à sazonalidade que têm outros vírus respiratórios, é “provável” que Portugal venha a ter “réplicas” da vaga de janeiro e fevereiro ao longo dos meses mais quentes, devido ao padrão evolutivo do vírus e ao desdobramento da variante Ómicron em diferentes linhagens.
Face à evolução das variantes, e de maneira a atenuar o impacto da atual vaga e de futuras vagas, Carmo Gomes deixou dois conselhos para a população: não descartar a vacinação e a dose de reforço da vacina e “utilizar a máscara de forma inteligente”.
“Ainda temos uma fração significativa da população abaixo dos 50 anos que ainda não fez o reforço. Por um lado, compreende-se que as pessoas que foram infetadas em janeiro e fevereiro pela Ómicron, mas logo ao fim de quatro meses devem fazer o seu reforço, porque se garante que ficam protegidas bastante tempo contra doença grave, mesmo que a Ómicron venha a apresentar novas variantes. Isso é extremamente importante.”
Para o epidemiologista, embora tenha sido decretado pelo Governo o fim da obrigatoriedade das máscaras em espaços fechados, “faz todo o sentido que as pessoas utilizem as máscaras de uma forma inteligente”.
“Isto é, normalmente não têm máscara, mas se vão entrar num espaço em que há muita gente, nesses casos coloquem as máscaras voluntariamente e protegem-se, ficam mais protegidas e o risco de serem infetadas é bastante menor”, diz.
Carmo Gomes considera ainda “importante” a segunda dose de reforço para maiores de 80 anos, lembrando que, aproximadamente, 77% das mortes acontecem em maiores de 80 anos. “Portanto, em cada dez óbitos que estamos a ter, quase oito são pessoas com mais de 80 anos”, aponta, acrescentando ser “possível” que a faixa etária volte a receber uma dose de reforço na preparação para o outono e inverno.