Com a doação de 200 mil euros da Fundação Aga Khan para a aquisição do quadro “A Adoração dos Magos” de Domingos Sequeira, o director do Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA), António Filipe Pimentel, confessa à Renascença que encara agora a recta final desta campanha de angariação de fundos “como uma caminhada tranquila e não como uma caminha ‘stressante’ como tem sido até aqui”.
Com esta contribuição, o total angariado ultrapassa já os 400 mil euros dos 600 mil necessários para adquirir o quadro. “Um contributo enorme para o avanço da campanha”, refere António Filipe Pimentel, “que assim se aproxima da recta final já com garantia plena de sucesso, e com evidente reconhecimento pelo papel que a Fundação Aga Khan quis ter ao contribuir para uma campanha desta natureza, simbolicamente fazendo dela um primeiro contributo na área da cultura em Portugal”.
“São tudo circunstâncias de júbilo que nos deixam reconhecidos e contentes”, afirma o director do MNAA, que foi a primeira instituição cultural portuguesa a lançar uma campanha de “crowdfunding” para a aquisição de uma obra para o seu acervo.
Fazendo o balanço da campanha, que decorre até Abril, António Filipe Pimentel aponta que “o lado mais emocionante” tem sido “o dinamismo incrível da contribuição da cidadania”: “Ver como as pessoas se envolvem, mobilizam outras, apoiam mais do que uma vez e com generosidade”.
Os 200 mil euros doados pela Fundação Aga Khan juntam-se a cerca de outros 200 mil já angariados, desde o final de Outubro do ano passado, oriundos, sobretudo, de doações de singulares, muitas delas anónimas ou feitas por transferência bancária, de acordo com o site da campanha, patrocinar.publico.pt.
Nesse endereço, são também identificadas contribuições de entidades como a Fundação Carmona e Costa e a Fundação Luso-Americana, o Automóvel Club de Portugal, a associação AGIC de guias e intérpretes, os arquitectos Aires Mateus e a galeria Jorge Welsh, algumas autarquias, como a de Cantanhede, pioneira na doação, e pequenas e médias empresas, de sectores que vão da produção audiovisual, aos equipamentos médicos e às instalações eléctricas.
Já com um olho na meta, António Filipe Pimentel congratula-se pelo facto de a aquisição da obra estar cada vez mais ao alcance do museu. É "um momento de conquista para a vida cultural portuguesa porque representa um envolvimento activo da cidadania na construção do património, o que resulta num público cada vez mais crítico e cada vez mais atento”.
O director do MNAA espera agora que o movimento gerado em torno desta iniciativa sirva também para chamar a atenção do poder político. “O olhar político configura uma visão conservadora dos portugueses como um povo distanciado da cultura. O que uma campanha como esta confirma é que as pessoas não estão distanciadas da cultura, faltam-lhes, sim, os mecanismos para expressar esse interesse”, conclui.