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Portugal passou por cinco grandes ondas epidémicas, tendo o pico da 5.ª vaga sido atingido a 28 de janeiro. Segundo os peritos que participaram na reunião, desta manhã no Infarmed, “estamos numa fase de tendência decrescente” em todo os grupos etários.
Nesta altura, 96% da população tem uma dose da vacina e o país está com uma incidência a sete dias por 100 mil habitantes de 1.562 casos, o que corresponde a menos 45% face ao período homólogo.
Já o risco de morte é seis vezes inferior com vacinação e a última onda da pandemia não afetou unidades de cuidados intensivos.
O Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA) sugere um sistema de vigilância que junte a monitorização da Covid-19 à de outras doenças respiratórias – um modelo que vai permitir acompanhar novas variantes.
Em relação a cenários, os especialistas reconhecem que o país pode atingir “incidência muito baixa” em dois meses, mas alertam para uma nova onda pandémica em setembro ou outono sem a eventual adoção de medidas de mitigação da epidemia.
O vírus responsável pela Covid-19 está “objetivamente endémico”.
Esta nova reunião de avaliação insere-se num contexto em que se considera que Portugal já terá atingido há cerca de 10 dias um pico em termos de casos de covid-19, com o número de infeções a apresentar agora uma trajetória descendente.
Na segunda-feira, de acordo com dados da Direção-Geral da Saúde (DGS), o índice de transmissibilidade (Rt) do coronavírus SARS-CoV-2 registou uma nova descida para 0,81 e a incidência de infeções voltou a baixar, estando agora nos 4.989,6 casos por 100 mil habitantes.
Resumo dos pontos-chave das intervenções dos peritos:
Portugal ultrapassa pico da pandemia e está em fase decrescente
Pedro Pinto Leite, epidemiologista do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge, avançou esta quarta-feira que Portugal já ultrapassou o pico da pandemia. De acordo com o especialista, o país está já em tendência decrescente quanto ao número de novos casos diários e ultrapassou o pico da quinta onda epidémica no dia 28 de janeiro.
"Existem vários aspetos positivos relativamente à situação epidemiológica atual", garantiu Pinto Leite. De acordo com a informação avançada esta manhã, na última semana registou-se uma diminuição da incidência de Covid-19 em Portugal, acompanhada de uma diminuição de positividade e internamentos.
“Ainda temos uma mortalidade elevada, acima do limite de 20 óbitos diários definido pela OMS, mas este indicador estabilizou e espera-se que venha a diminuir. Este é um aspeto extremamente positivo que gostava de partilhar”, defendeu o epidemiologista.
Atualmente, todos os grupos etários apresentam uma incidência com tendência decrescente. Segundo os dados mais recentes, apurados num estudo realizado em pareceria com laboratórios nacionais, a variante Ómicron apresenta um risco de internamento cerca de 75% inferior, quando comparado com a variante Delta, e o tempo de permanência no hospital é, também, mais reduzido.
"Portugal encontra-se numa situação epidemiológica favorável à revisão de medidas de controlo", concluiu o perito do INSA.
Eventual nova onda pandémica em setembro ou outono
Baltazar Nunes, do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, continua a caracterização atual da situação epimeológica e os cenários para os próximos 12 meses.
Especialista indica que o valor do R(t) está a 0,76, quando no Natal chegámos a 1,53. Segundo este especialista, mantendo-se as atuais tendências, daqui a dois meses Portugal registará uma incidência de 60 casos por 100 mil habitantes.
Baltazar Nunes admite ainda que "de uma forma global podemos dizer que a atividade epidémica é mais intensa durante o período de outono inverno do que primavera verão. Há um potencial de sazonalidade que se pode vir a confirmar".
Este especialista diz ainda que "sem qualquer medida de mitigação, nem reforço vacinal, em setembro ou outubro poderá ocorrer uma nova onda epidémica, porque a população vai perdendo proteção ao longo do tempo".
Um sistema integrado para infeções respiratórias
Ana Paula Rodrigues, do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA), fala sobre a vigilância na fase de recuperação da pandemia, apresentando um novo sistema para a próxima fase e que integra todas as infeções respiratórias, incluindo a gripe.
O foco vai mudar. À medida que forem sendo aliviadas as medidas de saúde pública, é tempo de começar a olhar para o problema de outra forma: não vai ser necessário identificar todos os casos de infeção, as estratégias de testagem vão mudar e o foco de interesse vai mudar para o estado de doença com impacto na mortalidade.
O foco passa a ser o quadro clínico típico de uma infeção respiratória, que engloba vários agentes de infeção, numa otimização dos recursos. Propomos, por isso, a vigilância da gripe no novo sistema de vigilância de infeções respiratórias e infeções respiratórias agudas, que consiste na recolha de dados clínicos e laboratoriais.
Com este modelo teremos uma capacidade para monitorizar a incidência nas formas ligeira e grave e também a incidência de outros vírus de gripe e infeções respiratórias.
Um ponto muito importante deste sistema é também a capacidade de identificação de novas variantes do novo coronavírus e de estirpes da gripe. E ainda, ao recolher informação clínica e laboratorial, avaliar o impacto das vacinas e dos medicamentos que venham a ser usados.
Uma nova resposta em função da gravidade da doença e não de casos
Henrique Barros, do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP) defendeu, esta manhã, que a relação entre o número de casos de Covid-19 e o impacto da infeção mudou no último ano e essa mudança reflete-se também na intensidade das medidas adotadas.
"Assumindo «zero» como uma vida sem restrições e «50» como o máximo de restrições, Portugal foi dos países que mais medidas adotou", começou por explicar o médico de saúde pública.
"Há muito que se mudou e se pensa a resposta em função da gravidade da doença e não dos casos. Existe uma clara relação entre a intensidade das medidas tomadas e o aumento de incidência no inverno de há uma ano e, pelo contrário, essa associação é muito pouco clara no contexto atual", esclareceu o especialista.
Um estudo com uma amostra representativa da população do Porto - 230 pessoas, com mais de 10 anos - revelou que 98% têm anticorpos. E deste grupo, cerca de 18% tinha história de diagnóstico de infeção.
Cerca de 97% desta população representativa do Porto está vacinada e praticamente toda tem presença de anticorpos, referiu Henrique Barros, citando a mesma investigação.
O perito sugeriu, ainda, uma monitorização apertada das águas residuais como indicador da intensidade da infeção no país.
"Temos que agir tão depressa quanto possível, mas tão devagar quanto for necessário. É fundamental que estejamos atentos ao que pode vir a surgir", concluiu.
Monitorizar, vacinar, ventilar e usar máscara
Raquel Duarte, da ARS Norte, Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto e Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar , elaborou algumas recomendações, considerando que é possível "passar a um nível de menos medidas restritivas".
Raquel Duarte apresentou dois cenários, um de nível 0 (o mais próximo da normalidade) e outro de nível 1.
No nível 1, no que diz respeito à testagem, além de uma rede sentinela, Raquel Duarte aconselha que sejam testadas com maior regularidade a população com maior vulnerabilidade, funcionários do pré-escolar, locais de maior risco de transmissão e pessoas sintomáticas em contexto de diagnóstico.
No nível 0, a testagem será apenas feita com o apoio de uma rede sentinela.
Já sobre o uso de máscara, no nível um deve ser mantida em locais interiores públicos, serviços de saúde, transportes públicos e locais exteriores com concentração elevada de pessoas. No nível zero, deixam de ser obrigatórias.
Quanto ao trabalho, aos estabelecimentos comerciais, bares ou discotecas, a pneumologista recomenda que tudo se realize sem qualquer restrição.
Esta especialista sublinhou a necessidade de continuar a monitorizar o que se passa na população e apelou a uma mudança de comportamentos.
"Não é aceitável ir trabalhar ou socializar com sintomas, nem descurar a higienização das mãos", exemplificou.
Raquel Duarte elegeu algumas medidas de ação que considerou essenciais, nomeadamente a mointorização, vacinação, ventilação e utilização de máscara em situação de risco, e sugeriu uma avaliação quinzenal.
Marcelo agradece esforço em “dois anos muito intensos”
O Presidente da República falou depois das intervenções de todos os peritos. Marcelo Rebelo de Sousa quis agradecer a todos os especialistas e equipas envolvidas na gestão da pandemia de Covid-19 em Portugal.
“Foram dois anos muito intensos, muito complexos às vezes, com variações – mais previstas, menos previstas e há uma dose de imprevisibilidade e que eu queria aqui, num momento que de alguma maneira é simbólico, como a senhora ministra disse – e é a primeira a merecer este agradecimento, como a sr. Diretora-geral de Saúde – mas toda a equipa. Queria referir como foi um esforço de equipa muito complexo, difícil, aturado, devotado e importante”.