O chefe de Estado da África do Sul, Jacob Zuma, afirma que abandonará a Presidência se o Parlamento votar, na próxima quinta-feira, a favor da moção de censura apresentada pelo seu seu próprio partido, o Congresso Nacional Africano (ANC, no poder desde 1994).
Em declarações à cadeia de televisão pública sul-africana SABC, e após várias insistências do jornalista, Zuma, no cargo desde 2009, acabou por indicar que aceitará a decisão do Parlamento, rejeitando, porém, a exigência do ANC para se demitir antes da votação.
Jacob Zuma, que indicou que fará uma declaração ao país esta quarta-feira, adiantou que está a ser "vítima" e que discorda dos esforços do partido para o demitir.
O presidente da África do Sul assumiu que pensou em apresentar a demissão, mas que decidiu ficar "mais uns meses" num cargo que, constitucionalmente, vigora até 2019, ano de eleições presidenciais.
"Não fiz nada de mal (...). Estou em desacordo com a decisão (do ANC). Mas se o parlamento disser que não me quer mais, partirei", sublinhou Zuma.
Na entrevista, Zuma considerou "injusta" a decisão do ANC de exigir a sua demissão, realçando que o partido não apresentou "razões claras" para tal.
O ANC avançou que, caso Zuma não se demita do cargo, irá apresentar uma uma moção de censura na quinta-feira.
"É muito injusto que o assunto seja permanentemente levantado. O que poderei fazer? Ninguém é capaz de apresentar razões claras" para a demissão, afirmou Zuma, aludindo ao ANC.
"Preciso de ser informado sobre o que fiz. Porquê tanta pressa?", questionou Zuma, acusado desde 2016 de vários atos de corrupção, que sempre negou.
O poder de Zuma tem vindo a diminuir desde que o seu vice-presidente, Cyril Ramaphosa, lhe sucedeu, em dezembro, à frente do ANC, ficando bem posicionado para se tornar chefe de Estado da África do Sul nas eleições do próximo ano.
Ramaphosa fez do combate à corrupção governamental uma das prioridades durante a pré-campanha e a campanha para a liderança do ANC.
Nos casos que alegadamente envolvem o Presidente da República, está causa sobretudo determinar a extensão de eventuais crimes cometidos pelos três irmãos Gupta, família de origem indiana que domina os negócios na África do Sul e que está também a ser investigada pelos serviços secretos do FBI.
Além das acusações de que Zuma esteja a favorecer as atividades empresariais dos irmãos, o FBI investiga fluxos de caixas suspeitos, enviados pelos Gupta diretamente da África do Sul para o Dubai e para os Estados Unidos.
A oposição sul-africana considera que Ajay, Atulk e Rajesh Gupta asseguraram junto de Zuma importantes posições na administração sul-africana, pagando somas avultadas em dinheiro e permitindo ganhar concursos públicos no valor de centenas de milhões de dólares.