Paris e a Europa. “É preciso aumentar os orçamentos de defesa e segurança interna”
17-11-2015 - 19:06
 • José Pedro Frazão

Diogo Feio e Vera Jardim comentaram na Renascença os rumos possíveis de resposta aos atentados da última sexta-feira em Paris.

No rescaldo dos atentados de Paris, o antigo eurodeputado Diogo Feio sugere um reforço do investimento europeu em segurança e defesa.

“Temos que olhar para os orçamentos da defesa e da segurança interna de um outro modo. Será o crescimento desses orçamentos, será a segurança que vai defender a liberdade de circulação. Se não tivermos uma resposta nessas duas vias, a liberdade de circulação corre um sério risco. O conjunto de capitais europeias, a nossa civilização corre também um risco. É preciso intervir”, declara o dirigente do CDS no programa “Falar Claro” da Renascença. Diogo Feio substituiu o comentador habitual Nuno Morais Sarmento.

O socialista Vera Jardim argumenta que França pagou o preço pelo seu combate ao terrorismo.

“A França sofre também pela sua coragem. É bom que isto também seja dito. A França esteve na primeira linha do combate ao terrorismo. Quem é que foi para África, para o Sahel, para o Mali, com tropas no terreno? Foi a França. Quem esteve na operação da Líbia – muito discutível, é certo, com os resultados que deu? A França. Tem dado aqui um exemplo de coragem na luta contra o terrorismo. E está a pagar um preço”, defendeu o histórico militante do PS.

Mais coordenação, mais cooperação

Vera Jardim assinala que o autodenominado Estado Islâmico “tem retrocedido no que queriam que fosse o califado que consistia no território da Síria e do Iraque. Há aqui uma mudança estratégica do Daesh [Estado Islâmico] que é visível”.

O antigo ministro da Justiça considera que o problema tem que ser enfrentado com muita coragem e coordenação.

“A Europa parte sempre com atraso. As coordenações entre as polícias entre os serviços de informação são más, tem sido sempre assim”, lamenta Vera Jardim.

Melhorar fronteiras externas

No debate à luz do tratado de Schengen, o centrista Diogo Feio argumenta que a defesa da liberdade de circulação implica olhar para a política de fronteiras.

"Há que fazer a distinção entre aquilo que é totalmente diferente: asilo, refugiados, imigração, economia e o terrorismo. Tem que se actuar no sentido de um grande acordo entre Estados da UE. Se discordo totalmente de muros construídos para os refugiados, já sou totalmente favorável a uma posição coordenada entre forças de segurança para atacarem este fenómeno do terrorismo", sustenta o antigo eurodeputado.

Vera Jardim defende que o espaço Schengen e a liberdade de circulação são conquistas recentes que já fazem parte da cultura europeia.

“A maior fragilidade do espaço Schengen está nas fronteiras externas da UE. E desde logo na Turquia e no Líbano, dois países em que muitas vezes não pensamos e que mais refugiados da Síria acolhem", argumenta o antigo ministro socialista.

O socialista reconhece que a Europa funciona com mecanismos pesados de decisão, que tornam habitual que a Europa seja surpreendida.

Ainda assim, o dirigente socialista acredita que a tragédia pode ainda dar lugar a mudanças positivas.

“Porventura, isto fará bem à Europa. Às vezes das desgraças, das tragédias, tiram-se lições de tal ordem que é possível que a Europa passe a reagir de outra maneira a isto e a outros fenómenos de uma maneira mais consequente, que daqui a três semanas já ninguém fale nisto e se tenham todos esquecido das medidas que estavam projectadas no plano financeiro para evitar o financiamento do Daesh”, conclui Vera Jardim.