Quinze por cento da população em idade adulta que trabalha tem um problema de saúde mental. O dado é da Organização Mundial de Saúde (OMS) e da Organização Internacional do Trabalho (OIT), entidades que apontam para a necessidade “de se tratar o assunto com mais naturalidade”.
A presidente da "Encontrar+se", uma IPSS fundada em 2006, defende, em declarações à Renascença, a importância de se debater um tema que ganhou maior relevância com a pandemia.
“Quando 15 por cento da população em idade adulta que trabalha tem um problema de saúde mental e se pensarmos que não se lida bem com isso, não se fala sobre isso é evidente que nós temos um problema com um peso muito grande”, diz Filipa Palha, que é também professora auxiliar da Faculdade de Educação e Psicologia da Universidade Católica.
“É evidente que nós temos que começar a abrir o tema, a falar dele de uma forma natural a integrá-lo a incluí-lo”, defende reforça.
Filipa Palha sustenta que a saúde mental "nunca foi tão exposta como agora no contexto da pandemia" e que agora “estamos de tal maneira confrontados que é quase impossível não lhe dar atenção”.
"Temos de começar a informar, a psico-educar, a promover a literacia em saúde mental e depois começar a perceber como é que vamos introduzir este tema da saúde mental no mercado de trabalho."
A especialista defende a necessidade de se acabar com os estigmas associados à doença para que as pessoas não tenham receio de procurar ajuda: "Dizer que alguém é maluco só porque revelou ter um problema de ansiedade ou sofrer de depressão é um estigma que temos que evitar."
"Se eu arriscar em dizer que tenho uma ansiedade, ou que tenho uma depressão, ou outro problema que seja de origem mental, e se, ao abrir esta informação, vou ser rotulado de maluco, então não vou dizer nada a ninguém, vou manter-me calado."
"Não fazer nada custa muito mais do que qualquer investimento" na área da saúde mental, defende.
A presidente da "Encontrar+se" lembra que os dados oficiais revelam que “por exemplo, 50 por cento dos custos das condições de saúde mental resultam de custos indiretos, como a redução de produtividade, o que representa 12 milhões de dias de trabalho perdidos por ano devido à depressão e à ansiedade”.
“Tudo isto significa milhões de dólares de custo na economia em resultado desta perda de produtividade”, reforça.
Para Filipa Palha, “esta é uma daquelas situações em que não fazer nada custa-nos muito mais do que qualquer investimento”.
“Temos vários estudos e dados, e a evidência científica sobre estas matérias aponta para isso”, sublinha.
Sobre a discussão em curso em Portugal da semana de quatro dias de trabalho, Filipa Palha diz que “tudo o que contribua para o equilíbrio psicológico do trabalhador” é positivo.
Os problemas associados à saúde mental no local de trabalho vão estar em discussão nos dias 3 e 4 de novembro, no 4.º Fórum de Saúde Mental no local de Trabalho, uma iniciativa da "Encontrar+se" que decorre na cidade do Porto.