Do Porto a Coimbra, passando por Loures, enfermeiros manifestaram-se esta quinta-feira junto a vários hospitais do país.
Um grupo de enfermeiros manifestou-se em frente ao Hospital de Santo António, no Porto, para protestar contra a situação de precariedade em que se encontra.
Neste momento, segundo o Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP) são cerca de 1.800 os enfermeiros com contratos precários, 145 destes pertencentes ao Centro Hospitalar Universitário do Porto - Hospital de Santo António.
"Muitos estarão na iminência de ficarem desempregados mesmo fazendo tanta falta para colmatar carências estruturais do Serviço Nacional de Saúde", frisou Fátima Monteiro, dirigente do SEP/Porto.
É o caso de Filipa Campos, que, em declarações à Lusa, explicou ter iniciado funções no "Santo António" em outubro, com um contrato de quatro meses.
"Entrei no final de outubro, com um contrato que termina esta semana, vai ser renovado por mais quatro meses. Não sei, no entanto, o que será feito daqui a quatro meses", lamentou esta profissional, de 32 anos, seis dos quais como enfermeira.
E acrescentou: "Estamos integrados nos serviços, tivemos formação quando cá chegamos para fazermos parte da equipa, neste momento já somos elemento integrante, já funcionamos sozinhos e corremos o risco de a qualquer momento sermos dispensados, sermos mandados embora".
"Ou seja, andamos a gerir a nossa vida no dia-a-dia e acho que somos importantes para o serviço e para os doentes, não merecíamos estar nesta posição", frisou.
A dirigente sindical Fátima Monteiro criticou também o facto de "o Governo e alguns partidos, nomeadamente o PSD, terem inviabilizado que a profissão fosse considerada de risco" e sublinhou o "grande desconforto e indignação dos enfermeiros relativamente a não contagem de tempo de serviço".
"É incrível que 20 anos de profissão não tenha nenhuma contrapartida económica. Nesta situação temos cerca de 20 mil enfermeiros, estão há 20 anos a ganhar o mesmo, na primeira posição remuneratória", afirmou.
Nesta situação, Nuno Lourinho disse à Lusa que é enfermeiro há 17 anos, com contrato individual de trabalho, e que se mantém "na base da profissão, porque o Governo teima em não dar as progressões".
Os enfermeiros também se concentraram à entrada dos Hospitais da Universidade de Coimbra (HUC), em que foi reclamada ao Ministério da Saúde a celebração de contratos sem termo com estes profissionais.
O Sindicato dos Enfermeiros Portugueses revelou que cerca de 200 enfermeiros trabalham atualmente com “contratos precários” no Serviço Nacional de Saúde (SNS) no distrito de Coimbra.
Esse número inclui profissionais “com contratos a termo certo e contratos a termo incerto”, além de enfermeiros sem qualquer vínculo que prestam serviços ao SNS através dos chamados recibos verdes, disse à agência Lusa Paulo Anacleto, do SEP.
O SEP também exige que o Hospital Beatriz Ângelo, em Loures, passe a ser gerido pelo Ministério de Saúde a partir de janeiro de 2022 e que seja aplicada uma carreira única de enfermagem.
Em declarações no exterior do hospital, no distrito de Lisboa, a coordenadora da direção regional de Lisboa do SEP, Isabel Barbosa, explicou que está previsto que no início do próximo ano o Beatriz Ângelo passe para a esfera do Governo, mas é intenção do executivo “fazer um novo concurso para uma nova gestão privada”.
Os enfermeiros entendem, porém, que a “gestão privada não favorece nem os enfermeiros, nem a população”, opondo-se a uma nova parceria público-privada (PPP).