O ministro dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho, disse esta terça-feira que a instabilidade política em Itália é nociva para a União Europeia (UE) mas defendeu que, apesar de afetar toda a Europa, Portugal não sofrerá "desproporcionalmente".
Lamento muito a instabilidade em Itália, que é um país muito importante, pela dimensão que tem e pela influência que tinha Mario Draghi”, realçou à agência Lusa o ministro português, à margem de uma visita à Albânia e à Macedónia do Norte, países que iniciaram negociações para aderir à UE.
João Gomes Cravinho apontou ainda que a situação política é “nociva para a UE”.
“Mas ao mesmo tempo a Itália é uma democracia, e encontrará os mecanismos adequados dentro do seu funcionamento democrático normal, esperamos que o mais rapidamente possível”, realçou o chefe da diplomacia portuguesa.
A Itália vai realizar eleições legislativas antecipadas em 25 de setembro, na sequência da crise do Governo de unidade nacional liderado por Draghi, pressionado a renunciar devido ao abandono de três importantes parceiros da sua coligação: o Movimento 5 Estrelas (M5S), a Liga e o Força Itália, que não aprovaram a moção de confiança ao Governo pedida pelo primeiro-ministro.
Para o ministro dos Negócios Estrangeiros, a crise política em Itália “afetará toda a Europa”.
Sobre Portugal, João Gomes Cravinho realçou que o país “tem uma grande credibilidade nos mercados internacionais e, portanto, não sofrerá desproporcionalmente”.
“Mas todos sofrem de algum modo quando a UE é confrontada com este tipo de instabilidade num país tão importante como a Itália”, ressalvou.
Segundo as últimas sondagens, o partido ultranacionalista Irmãos de Itália, liderado por Giorgia Meloni, garante cerca de 23% das intenções de voto, à frente do Partido Democrata (também na casa dos 20%) e da força de extrema-direita Liga (14%).
A Força Itália, de Silvio Berlusconi, que perdeu alguns dos seus dirigentes por ter recusado apoio a Draghi, ronda os 8%.
Draghi presidiu a uma coligação de unidade nacional nos últimos 17 meses, desde fevereiro de 2021, quando foi indicado para gerir a crise da pandemia de covid-19 e a recuperação económica do país, após a queda do seu antecessor, Giuseppe Conte, líder do M5S, que esteve na base da atual crise política.
A coligação foi apoiada por praticamente todos os partidos com assento parlamentar, da esquerda à extrema-direita, exceto pelo movimento ultranacionalista de Giorgia Meloni.
No passado dia 14 de julho, Draghi anunciou que não queria continuar a governar sem o apoio do M5S, quando este partido se absteve num primeiro voto de confiança.
Nessa altura, o Presidente italiano, Sergio Mattarella, rejeitou o pedido de renúncia e pediu a Draghi para tentar novas soluções políticas, com o devido apoio no parlamento.
Na semana passada, Mario Draghi venceu uma segunda moção de confiança, mas perdeu o apoio de três dos partidos que apoiavam a sua coligação – o M5S, o Força Itália e a Liga – o que justificou uma nova visita ao Presidente, para lhe reiterar o pedido de demissão, que foi aceite, levando à antecipação das eleições.