O capelão de um colégio privado no Reino Unido foi denunciado pela própria direção a uma unidade de antiterrorismo por ter dito aos seus alunos, numa homilia, que são livres de discordar do programa “inclusivo” que a escola está a adotar.
O programa em causa, “Celebrate & Educate” ensina, entre outras coisas, que a escola deve adotar fardas neutras e que os alunos não se devem referir uns aos outros como “rapaz” e “rapariga”, para evitar ofender colegas transgénero.
Numa homilia, diante dos alunos, o capelão Bernard Randall disse que estes devem ser livres de discordar do programa e que ninguém lhes deve dizer como pensar sobre temas polémicos, contudo, insistiu que em caso algum deviam, por causa da sua discordância, faltar ao respeito a ninguém.
“Acima de tudo, temos de nos tratar uns aos outros com respeito, e não com ataques pessoais. Amar o nosso próximo como a nós mesmos é isso mesmo”, disse, acrescentando que “não faz mal tentar convencer alguém da sua posição, mas ninguém deve ser obrigado a aceitar uma ideologia. Amem a pessoa, mesmo quando discordam profundamente das ideias. Não denigrem uma pessoa simplesmente por ter opiniões e crenças com as quais discorda.”
Sobre o programa em si, o vigário disse que “há alguns aspetos que são simplesmente factuais. Há, na nossa sociedade, pessoas com atração pelo mesmo sexo e há pessoas que têm disforia de género. Há áreas que são comuns ao cristianismo, ninguém deve ser discriminado simplesmente por ser quem é” mas, disse ainda, “há algumas áreas em que os dois conjuntos de ideias estão em conflito, e nestes campos vocês não são obrigados a aceitar as ideias e as ideologias dos ativistas LGBT. Aliás, uma vez que esta escola existe para ‘educar rapazes e raparigas de acordo com os princípios protestantes e evangélicos da Igreja de Inglaterra’, quem vos disser que devem aceitar princípios contrários está a pôr em causa os estatutos da escola, e por isso a sua própria existência”.
A direção da escola considerou estas palavras de tal forma polémicas que enviou uma denúncia à Prevent, uma unidade que atua em casos de radicalização ideológica e na prevenção de terrorismo. Mas quando a unidade respondeu a dizer que as palavras do clérigo não cumpriam os requisitos para abrir uma investigação, o vigário foi chamado à direção e foi-lhe dito que a partir de então deveria submeter todas as suas homilias para análise prévia e que os seus serviços religiosos seriam monitorizados. A escola denunciou ainda o clérigo às autoridades, uma medida normalmente reservada a pessoas que apresentam uma ameaça a menores.
Bernard Randall acabou por ser despedido da escola, mas apresentou queixa, alegando ter sido vítima de discriminação, assédio e despedimento ilegal.
Em comentários ao jornal britânico “Daily Mail”, que reproduz a homilia por inteiro, Toby Young, da União para a Liberdade de Expressão, mostrou-se chocado com o caso. “Esta é uma homilia fantástica, que nos recorda que ninguém tem o monopólio da verdade moral. É escandaloso que Bernard Randall tenha perdido o seu emprego por causa disto.”
“O que é mais deprimente sobre a forma como foi tratado é a mensagem que transmite aos alunos. O tema central da homilia é de que as crianças não devem ter medo de pensar por elas, mas a mensagem que a escola está a transmitir é o contrário. As escolas devem ensinar às crianças como pensar, não o que pensar”, conclui o ativista.