O presidente da Associação Sindical dos Profissionais de Polícia, Paulo Rodrigues, disse à Renascença esta segunda-feira que estranhao alegado pedido de desculpas de Portugal a Angola devido aos confrontos entre polícias e moradores no bairro da Jamaica, no Seixal. E acrescenta que se há alguém que merece que lhe seja pedida desculpa, esse alguém são os agentes da PSP.
“O único comentário que nos merece é estranheza porque se o senhor ministro [dos Negócios Estrangeiros] já sabe as conclusões do processo, quando ainda está em investigação, alguma coisa não está bem na Justiça”, começa por dizer o sindicalista. “Se o senhor ministro pura e simplesmente acabou por manifestar essa sua desculpa ao Governo angolano, o que depreendemos é que essas conclusões podem influenciar o processo.”
Paulo Rodrigues conclui que, neste momento,estando a decorrer o processo de investigação, “o nosso Governo devia esperar pela conclusão” do processo.
Ao início da tarde de hoje, o Governo angolano garantiu que já "não existe qualquer irritante" nas relações entre Angola e Portugal, salientando, paralelamente, que o "Caso Jamaica", com críticas à atuação da polícia, está ultrapassado. Isto porque, segundo o ministro das Relações Externas de Angola, Manuel Augusto, houve contactos com o homólogo português, Augusto Santos Silva, nos quais este terá pedido desculpas pelos incidentes.
"Teve a hombridade de me ligar, não só para apresentar desculpas, mas também para sublinhar a forma, com sentido de Estado, como as autoridades angolanas reagiram", sublinhou o governante angolano.
As declarações ocorrem a um dia da chegada do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, para uma visita oficial durante esta semana.
Entretanto, numa nota à Lusa, o ministério de Augusto Santos Silva não confirmou o pedido de desculpas a Luanda, apenas revelando que existiu uma chamada entre os dois ministros em que Portugal "lamentou" a ocorrência do caso.
Paulo Rodrigues considera que este será mais um sinal de que “os responsáveis máximos não querem saber o que se passou no concreto” e sublinha que os últimos casos revelam que “o Governo age mais facilmente contra os polícias do que contra os cidadãos que insultam polícias”.
“É mais fácil ser forte com os fracos e fraco com os fortes”, critica o sindicalista. Também acrescenta que, nalgumas situações, a PSP não atua tão bem como poderia por falta de decisões e de meios adequados, bem como face à falta de motivação dos profissionais.
“O Governo tem de pedir desculpas é aos policias por não lhes dar os meios. Esses, sim, merecem um pedido de desculpas, mais do que o Governo angolano”, conclui.