O presidente do CDS, Francisco Rodrigues dos Santos, assume que cometeu erros que “ nem tudo correu da maneira como gostaria”, mas acredita que tem condições para continuar e “para fazer mais e melhor”. E só aceita um congresso antecipado depois das eleições autárquicas que devem ocorrer no Outono.
“Como institucionalista que sou, bato-me para que as instituições sejam preservadas, sem que o debate interno as coloque em causa. Os mandatos são para cumprir e eu quero executar o projeto para o qual fui mandatado pelos militantes, que tem a duração de dois anos”, disse Francisco Rodrigues dos Santos no discurso em que apresenta a moção de confiança ao Conselho Nacional do partido, que está reunido neste sábado.
“Não se fazem balanços a meio do mandato. Os que nos seguem lá fora e até muitos cá dentro, não entenderão que na altura da mais grave crise de saúde pública que enfrentamos, em que tantos portugueses sofrem privações, o CDS esteja dividido em guerras, empenhado em provocar a precipitação de um congresso no atual contexto do país, quando tem órgãos democraticamente eleitos”, prossegue Francisco Rodrigues dos Santos, que dedicou o inicio do seu discurso ao ataque aos seus adversário que diz serem uma elite, enquanto que ele é um representante das bases.
“Na minha eleição não tive “cunhas”, não fui entronizado por “barões”, e não recebi favores de padrinhos. Fui escolhido pelas bases, por gente humilde e abnegada, a maior parte anónima e sem voz, há muito ignorada pela cúpula do partido, a mesma que durante demasiado tempo se alimentou do seu trabalho para satisfazer as suas agendas”, acusou o presidente do CDS, que foi eleito há um ano, no congresso de Aveiro.
“Ao longo do último ano, eu e a minha equipa tivemos de começar a reerguer um partido que o rumo anterior deixou arruinado financeiramente, desacreditado e à mercê da concorrência de novas forças políticas que favoreceu que surgissem pela primeira vez. Sobre a gestão fracassada de quem guiou o partido até ao congresso de Aveiro e sobre o estado em que o encontrámos, nunca ouvimos uma única explicação”, continuou Francisco Rodrigues dos Santos, que considera ser este Conselho Nacional é a ocasião para discutir as responsabilidades de quem conduziu o partido até ao ano passado.
“Hoje talvez seja uma ocasião favorável para, pela primeira vez, ouvirmos alguns desses responsáveis responderem politicamente pela estratégia que defenderam, pelo programa que construíram, pelas opções que levaram à preterição do partido em véspera de eleições em benefício do conforto da vida privada, pela dívida exorbitante que deixaram e pelos piores resultados de sempre que obtiveram”, afirmou o presidente do CDS, numa alusão a Adolfo Mesquita Nunes, que foi vice-presidente de Assunção Cristas e responsável pelo programa eleitoral de 2019 e que agora quer um congresso antecipado.
Autárquicas decisivas
Francisco Rodrigues dos Santos defende que são os resultados eleitorais que servem para avaliar uma direção partidária e não as sondagens. E considera que, no seu ano de liderança, tem vencido os desafios. “Quer queiramos, quer não, são os resultados eleitorais que permitem fazer os verdadeiros testes das lideranças. Nas eleições legislativas regionais dos Açores, liderados pelo nosso VP Artur Lima, conseguimos integrar, pela primeira vez na história, o Governo Regional. Nas eleições presidenciais, o apoio do nosso partido foi integrado na maioria presidencial que permitiu a eleição de Marcelo Rebelo de Sousa à primeira volta”, analisou, passando a projetar o futuro mais próximo.
“Acresce ainda que, no nosso horizonte, estão as próximas eleições autárquicas, para as quais nos temos vindo a preparar de forma diligente. Criar instabilidade no partido nesta altura prejudica o trabalho de milhares de autarcas e dirigentes, afeta a reputação do partido e tem um efeito devastador na formação das nossas listas”, continuou o líder centrista que só aceita um congresso antecipado depois das eleições autárquicas.
“ Se, a seguir às eleições autárquicas, estiverem na disposição de ponderar a realização de um congresso, saibam que não me oporei a que essa discussão tenha lugar. O apelo que deixo hoje é firme e genuíno: que não demos um péssimo exemplo ao país e que respeitemos o trabalho de quem se tem entregado de corpo e alma ao partido em cada concelho do nosso país”, avisou, considerando que tem condições para alcançar “bons resultados em muitos lugares de Portugal nas próximas eleições autárquicas, contribuindo para melhorar a vida dos portugueses”.
“As nossas negociações com o PSD apontam nesse sentido. O PS venceu as eleições autárquicas em 2013 e 2017, não pode vencer outra vez em 2021”, prosseguiu Francisco Rodrigues dos Santos. As eleições autárquicas devem ocorrer em setembro ou outubro. O congresso do CDS, se não for antecipado, deve ocorrer em janeiro de 2022.
Criticas ao PS e novos conselheiros
Francisco Rodrigues dos Santos dedicou uma boa parte da segunda metade do seu discurso às críticas ao PS porque considera que o combate aos socialistas é que deve centrar as atenções do partido.
“Estamos no pior momento da governação socialista. Pior do que poderia ter-se imaginado. Os portugueses esperam dos partidos da oposição e dos seus deputados firme censura, proposta alternativa, um programa mobilizador, dispensam ruído, desprezam vaidades e não querem tiros nos pés, nem golos na própria baliza”, defendeu, acrescentando que é, por isso mesmo, que apresenta esta moção de confiança ao Conselho Nacional, que é o principal órgão do partido entre congressos.
O líder do CDs aproveitou ainda para apresentar um novo órgão que criou: um Conselho Estratégico e Programático, que “é maioritariamente composto por independentes sem vínculo ao CDS, terá natureza consultiva e funcionará junto da comissão política nacional do partido, tendo como principal missão o aconselhamento nas questões essenciais da condução política do partido, no seu posicionamento estratégico e no aprofundamento programático das suas propostas”.
Esse conselho Estratégico é composto pelos seguintes nomes que Francisco Rodrigues dos Santos quer que estejam “diariamente expostos” a defender ideias de direita:
- Bruno Costa – Doutorado em Ciência Política e Professor Universitário;
- Fernando Paes Afonso - Gestor;
- Filipe Osório de Castro – Economista e Empresário;
- João Luís Mota Campos - Advogado;
- João Muñoz de Oliveira – Gestor Educativo;
- José Bento da Silva – Professor Universitário, Doutorado em Gestão;
- José Rato Nunes - Professor Universitário, Doutorado em Agronomia
- Maria Amélia Valle-Flor – Investigadora, Doutorada em Estudos de Desenvolvimento;
- Margarida Bentes Penedo - Arquitecta;
- Margarida Gonçalves Neto - Psiquiatra;
- Mónica Baldaque – Museóloga, Pintora e Escritora;
- Pedro Teles – Professor Universitário, Doutorado em Economia e Investigador do Banco de Portugal;
- Ricardo Vieira - Advogado;
- Sofia Reimão - Médica;
Quanto à sua direção e a outro órgãos estatutários, onde ocorreram várias demissões nas últimas semanas, não adiantou nomes, só prometeu que irá renovar e reforçar as suas equipas.
“Comigo, haverá sempre CDS, sem mutações nem desvios de identidade, como quiseram os nossos fundadores. Comigo, o CDS continuará a ser um partido nacional, de norte a sul e ilhas, e nunca se reduzirá a um pequeno grupo da capital. Comigo, o CDS continuará a ser um partido incómodo para os que nunca votarão em nós e nos combatem. Comigo, o CDS continuará a erguer um muro entre a política e os negócios”, concluiu Francisco Rodrigues dos Santos, que discursou na sede do partido, em Lisboa.