Já depois das nove da manhã, de filha ao colo, Ademisa Sáo tentou levar a menina às urgências pediátricas do Hospital de São Bernardo, em Setúbal - onde já tinha estado esta semana.
"Ela continua com febre, com 39,2", explica. A esperança era que pudessem fazer algum exame específico que pudesse indicar a origem da febre. E assim resolver o problema.
"Hoje trouxe-a outra vez, mas cheguei ali na porta e disseram-me que a urgência estava fechada". De resto, à porta, já estava afixada uma mensagem escrita, dando conta do encerramento, até ás 9 horas de dia 12, a próxima segunda-feira, da Unidade de Urgência Pediátrica. E aconselhando os utentes a ligar para o SNS 24 para obter informações.
Enquanto ajeita um saco que tem a tiracolo, com uma manta extra, fraldas e comida, Ademisa diz que não tem outra alternativa: "Tenho de ir para o Hospital da Luz, que remédio. A criança está doente e não posso ficar com ela em casa".
Vai porque tem seguro de saúde, porque senão, a alternativa seria o Hospital do Barreiro.
Próximo do Hospital de São Bernardo, a Escola Básica nº4 dos Pinheirinhos. À hora de entrada, muitos pais e mães a deixarem as crianças - algumas já de pingo no nariz ou a tossir - para mais um dia de aulas.
Ana Maneira já se despediu da filha. Lembra que não são só os utentes de Setúbal a recorrer ás urgências pediátricas do São Bernardo. Por isso, não tem dúvidas: "Acho que é inadmissível. Um hospital que abrange uma população enorme não pode encerrar as urgências pediátricas. Acho que o nosso Governo tem de começar a pensar nas pessoas. Porque senão, o nosso país vai afundar".
Já a caminho do carro, depois de se despedir do filho, Rudolfo Moleirinho considera que não há explicação.
"Não se entende. De um momento para o outro, parece que deixou de haver médicos. Depois de passarmos uma altura tão complicada com a pandemia, numa altura destas, bem mais desafogada, não se entende muito bem".