A história da Iniciativa Liberal é relativamente recente, e são poucos os que detêm o título de “antigo presidente” do partido. Até este domingo, só Miguel Ferreira da Silva e Carlos Guimarães Pinto podem afirmar que o foram: o próximo é João Cotrim de Figueiredo.
E o primeiro de todos, Miguel Ferreira da Silva, dá conselhos a Cotrim para fazer uma transição pacífica. “Estar a interferir com as eleições internas minimiza um bocadinho o papel do João”, desfere em entrevista à Renascença.
O fundador da IL classifica como “extraordinário” o trabalho de Cotrim de Figueiredo enquanto presidente do partido, mas alerta para o risco de borrar a pintura. O presidente demissionário apoiou, desde a primeira hora, a candidatura de Rui Rocha.
Na qualidade de ex-presidente, puxa a fita atrás para lembrar a altura em que saiu: “Houve um bom amigo que teve a cortesia de me dar um bom conselho, que foi: um bom ex-líder é calado e desaparecido”, e lamenta que João Cotrim de Figueiredo não tenha tido “um bom amigo” para lhe dar esse conselho.
Miguel Ferreira da Silva refere-se às entrevistas dadas este sábado por Cotrim, mas sobretudo pela parte do discurso que dedicou a responder aos críticos internos. O fundador da IL diz que ontem “toda a sala estava unida em saudar o legado de Cotrim”, e considera que o erro dele foi ter perdido tanto tempo em defender-se. A primeira parte foi boa, diz Ferreira da Silva: “Seria suficiente parar aí”.
“Acho que João deve ter mais confiança no seu legado”, aponta o primeiro presidente do partido. “Estar, depois de anunciar a sua saída, a interferir [com a disputa interna], infelizmente, minimiza o papel do João”, lamenta Miguel Ferreira da Silva.
Mais direto, o antigo presidente da Iniciativa Liberal, admite que o discurso de sábado de Cotrim ajudou a balcanizar ainda mais a Convenção do partido: “A sala ficou num profundo silêncio. É uma pena o João estar a sair desta forma, ele não merece. Tem um legado demasiado bom para o estar a manchar”.
Miguel Ferreira da Silva insiste no conselho do “amigo”: “um bom ex-líder deve estar calado”, atira o fundador dos liberais. E descreve a interpretação das palavras de um antigo presidente: “Se fala bem, está a apropriar-se do que vem a seguir. Se fala mal, está a dividir o partido”.
O líder pioneiro acredita que “podia não ter essa intenção, mas teve essa tentação”, critica.