A maioria dos cuidadores informais vê-se em situação de fragilidade psicológica, individual e social. Quase três quartos dos 1.183 inquiridos sente-se muitas vezes ou quase sempre nervoso. Nove em cada dez poucas vezes é capaz de se sentir animado, tem a cabeça cheia de preocupações e um terço tem uma sensação permanente de medo, como se algo de mau fosse acontecer.
Dois em cada três cuidadores tem pouco ou nenhum prazer em fazer coisas que antes gostava e 80% não é capaz de rir ou de ver o lado positivo das coisas.
Para a coordenadora do estudo, Ana Carina Valente, este é um dos dados muito preocupantes. Apesar de frisar que os resultados têm de ser analisados com muita calma considera que mostram claramente que os cuidadores informais estão em sofrimento e precisam de ajuda eficaz por parte dos técnicos, do Estado e da sociedade em geral.
O interesse em cuidar do aspeto físico, a impaciência, as sensações de pânico ou a incapacidade de apreciar um bom livro, um programa de rádio ou televisão também revelam a fragilidade psicológica destas pessoas.
O inquérito realizado entre 3 de novembro e 4 de janeiro quis perceber também com que frequência os cuidadores tinham experimentado alguns sentimentos no mês anterior. Quinze perguntas cujas respostas reforçam a gravidade da situação.
16% nunca se sentiu feliz e para quase metade, aconteceu uma ou duas vezes. 40% respondeu que todos os dias ou quase se sentia interessado e estava satisfeito com a vida. Mas os que sentiram desiludidos são mais.
Cuidadores estão desiludidos com a sociedade
Interessante é o resultado em relação ao contributo para a sociedade. A quantidade dos cuidadores que pensa nisso é ligeiramente superior à dos que não valorizam essa questão: cerca de 40% para cada lado.
Mas só 20% sente que pertence a uma comunidade. Mais de metade dos inquiridos poucas ou nenhumas vezes tem esse pensamento; as mesmas que pensa que as pessoas são essencialmente boas.
Aliás, são poucos os cuidadores que consideram que a nossa sociedade é um lugar bom ou se está a tornar melhor para as pessoas. A mesma quantidade – sete em dez – que considera que a forma como a sociedade funciona não faz qualquer sentido.
No entanto, boa parte dos inquiridos tem boa opinião de si próprio quase todos os dias: gosta da maior parte das características da sua personalidade, gere bem as responsabilidades da sua vida diária, consegue ter relações calorosas e de confiança com outros e tem experiências que o desafiam a crescer e a tornar-se uma pessoa melhor. Além disso sente-se confiante para pensar ou expressar as suas próprias ideias e opiniões e que a sua vida tem um significado.
No entanto, a percentagem dos que poucas vezes têm estes sentimentos também tem de ser analisada. São três a quatro em cada dez dos cuidadores entrevistados para o estudo Saúde mental e bem-estar nos cuidadores informais em Portugal .
Cuidadores informais precisam e pedem apoio psicológico
Mais de 80% dos cuidadores inquiridos admitiu que já esteve em estado de burnout ou de exaustão emocional e sentiu necessidade de apoio psicológico porque considera que a sua saúde mental influencia o seu desempenho como cuidador informal.
No entanto, apenas 42% procurou apoio e só 17% o têm neste momento. O que fica claro é que mais de dois terços gostava de ter apoio psicológico profissional e que quase todos gostariam que tal pudesse acontecer através de uma linha de apoio, preferencialmente pelo telefone ou videochamada.
Ana Carina Valente diz entender a preferência pelo contacto telefónico porque é mais prático e a pessoa poderia ter ajuda imediata com profissionais que lhe dessem apoio psicológico. Mas é essencial que também tenham formação sobre o que é ser cuidador e em caso de necessidade, façam o encaminhamento das pessoas para outros apoios, nomeadamente a nível social.
A psicóloga espera que seja possível analisar bem os resultados e ajudar os cuidadores informais na melhoria da sua saúde mental, de forma rápida, eficaz e gratuita. Ou seja, através do Serviço Nacional de saúde.
85% dos cuidadores inquiridos eram mulheres e 15%, homens. 60% tem entre 45 e 64 anos. Mas 20% tem mais de 65 anos, o que quer dizer que há muitos idosos a cuidar de outros idosos ou dependentes. Mais de 40% tem o ensino superior e 33%, o secundário. Quase metade estão desempregados e 20% são reformados.