Há alguns meses, Paulo Portas lembrava, numa entrevista, que "um americano muda de emprego, em média, 11 vezes durante a vida, um europeu muda três a quatro e com dificuldade". A mobilidade económica, que também se manifesta na mobilidade laboral, é um factor importante para o funcionamento da economia, especialmente da economia do séc. XXI.
As novas tecnologias (automação, inteligência artificial) terão um impacto enorme sobre o balanço da oferta e procura de trabalho. Não é que os empregos venham a desaparecer: a história mostra-nos que as revoluções tecnológicas destroem empregos, mas não aumentam a taxa de desemprego. O problema é que a nova economia precisa de um conjunto diferente de habilitações.
Neste sentido, a revolução digital, tal como a revolução industrial de há dois séculos, é, em grande parte, um problema de ajustamento.
Travar a mobilidade económica (nomeadamente a mobilidade laboral) pode parecer a melhor solução para evitar a destruição de empregos, mas acaba por ser uma luta contra o inevitável.
Não quero com isto negar que haja aqui um problema social grave. O que quero dizer é que a solução passa pelo apoio aos que mais sofrerão no processo de ajustamento, bem como a formação que permita entrar na nova fase do mercado de trabalho.
Continuando a citar Portas: "Precisamos de gente nova, como é evidente, mas também temos de ter uma cultura aberta." Concretamente, uma cultura aberta à revolução digital em curso, por maiores que sejam os custos de ajustamento.