Um estudo da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) concluiu que as quedas em altura e os acidentes de viação foram as principais causas de acidentes graves de trabalho na região Norte e nas últimas décadas.
De acordo com informação remetida à agência Lusa, a equipa da FMUP analisou exames médico-legais e constatou que as principais vítimas são homens, com idades entre os 25 e os 45 anos, que trabalham na construção, operação de máquinas, serviços gerais e no comércio.
Publicado no Journal of Forensic and Legal Medicine, uma revista médica sobre medicina forense e legal, este estudo demonstrou que a maior parte (73,8%) das lesões localizaram-se no cérebro e na medula espinal.
Já os resultados permanentes a longo prazo foram principalmente associados a sequelas neurológicas (62,1%) e ortopédicas (52,4%), conforme se lê nas conclusões do estudo, que é assinado por Isabel Almeida, José Manuel Teixeira e Teresa Magalhães.
No mesmo estudo foi possível constatar que 23,3% das vítimas ficaram com incapacidade permanente parcial (IPP), 35% com incapacidade permanente absoluta para todo e qualquer trabalho (IPA) e 41,7% com incapacidade permanente absoluta para o trabalho habitual (IPATH).
No entanto, no que respeita à IPATH, uma percentagem considerável de pessoas consideradas capazes de trabalhar não estava profissionalmente ativa, encontrando-se em situação de desemprego ou reforma antecipada.
"O que poderá ter resultado de falta de investimento no processo de reintegração laboral", lê-se no resumo remetido à Lusa que, citando os investigadores, alerta que "os ferimentos devidos a acidentes de trabalho constituem um problema de saúde pública, social e económica, além de serem uma das principais causas de morte prematura, morbilidade e incapacidade num número significativo de pessoas".
A equipa da FMUP defende que deve ser feita uma abordagem médico-legal mais detalhada em determinados casos "baseada em aspetos concretos da realidade profissional da vítima e não apenas no conteúdo da tabela de incapacidades permanentes (TNI)".
"Deve existir uma articulação entre todas as instituições que trabalham com a vítima de acidente de trabalho e a área da medicina legal, com o objetivo de promover a recuperação e a reabilitação profissional destas pessoas", defende.
Estima-se que, anualmente, ocorram mais de 374 milhões de acidentes de trabalhos não fatais a nível mundial.
Em 2020, Portugal registou um total de 156.048 acidentes laborais, em que cerca de 73% dos casos originaram consequências temporárias que exigiram ausência do trabalho e 131 casos fatais.
Este estudo foi realizado com o objetivo de refletir sobre o papel que a medicina legal pode desempenhar na promoção da reintegração profissional das vítimas.