O novo diretor da Obra Nacional da Pastoral dos Ciganos (ONPC) quer olhar com particular atenção para os que se encontram à margem da sociedade.
Hélder Afonso, que pertence à diocese de Vila Real, foi nomeado, em novembro, pela Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) para a direção nacional da Pastoral dos Ciganos e, em entrevista à Renascença, adianta que quer “sonhar e projetar uma melhor vida com e para os ciganos”.
O novo responsável propõe-se visitar todas as dioceses e estabelecer pontes com o Estado para a resolução dos vários problemas que afetam a comunidade cigana. A habitação é uma das áreas prioritárias.
Como é que acolheu este convite da Conferência Episcopal Portuguesa?
Acolhi o convite com uma total surpresa. Fiquei surpreendido por ser um transmontano. É a primeira vez que a diocese tem um diretor num secretariado nacional, mas por ser transmontano e por estar tão distante da capital, terem-me convidado a mim, se calhar já foi fruto daquilo que o Papa Francisco falou, na visita a Portugal, de incluir todos.
Apesar de a nomeação ser recente, já é possível adiantar quais vão ser as linhas de ação?
A Pastoral Nacional dos Ciganos quer fazer um trabalho de proximidade com todas as dioceses e quero, no próximo ano, visitar todas, senão grande parte das dioceses onde têm estes secretariados implementados.
Existem secretariados em todas as dioceses ou esse é um dos desafios?
Há em todas as dioceses o secretariado diocesano da Pastoral dos Ciganos ou das Minorias Étnicas. Há dioceses que incluíram o nome "Minorias Étnicas" outros mantêm o nome original "Pastoral dos Ciganos", mas grande parte desses secretariados está alocada à Cáritas e à Pastoral das Migrações - estão diluídos, envolvidos, juntos, com outros secretariados. Portanto, há uma série de secretariados que têm já implementadas algumas dinâmicas muito positivas. Eu quero aprender também com eles e também os quero envolver e ver aquilo que melhor eles fazem para, também no âmbito nacional, podermos contribuir para a comunidade cigana.
Nem sempre é fácil a integração destas comunidades na sociedade. De que forma é que esta pastoral pode ajudar a essa integração?
De facto, não tem sido fácil e não é fácil a comunidade, muitas vezes, envolver-se naquilo que é a Igreja, naquilo que são os sacramentos. Eu falo de alguns casos que conheço. Eles frequentam os sacramentos, ou seja, são batizados, fazem uma outra festa, mas, depois, frequência dominical ou frequência eucarística não têm. Mas é um trabalho e é um desafio. É um desafio enorme.
É um trabalho de grande proximidade, porque eles precisam de ganhar a nossa confiança, precisam de ganhar a nossa disponibilidade para os poder ajudar, porque, quando a comunidade nos procura, procura-nos sempre para pedir alguma coisa, para pedir alguma ajuda, para pedir algum conselho, para pedir que os ajude a resolver problemas sociais, económicos, de habitação, que é um dos problemas que me aflige neste momento, porque parte da comunidade cigana ainda reside em barracas e, se for por opção, tudo bem, não vamos obrigar ninguém, não queremos obrigar ninguém a mudar. Muitas vezes a situação é uma opção, é uma opção da comunidade, mas uma das situações que pretendemos trabalhar é a da habitação, pôr como foco esta temática.
Daí proporem-se como interlocutores junto do Estado, por exemplo?...
Sim, sim. Eu já reuni em novembro com o Observatório da Comunidade Cigana. É um observatório que está disponível no Alto Comissariado das Minorias Étnicas. Já reuni com eles também para ver o que é que nós, enquanto Pastoral dos Ciganos da Conferência Episcopal Portuguesa, podemos e estamos disponíveis para colaborar com eles, para o diagnóstico que eles têm. E terminou há muito pouco tempo um concurso do Observatório das Comunidades Ciganas que pretende fazer esse diagnóstico nacional sobre a vida, sobre quantas comunidades existem, o número de ciganos, onde vivem, como vivem.
Queremos também reunir com o Ministério da Educação, com o da Segurança Social também para perceber junto das escolas ou junto das instituições de solidariedade social o que é que nós podemos fazer e em que é que podemos colaborar. Também com o Ministério Saúde, para ver a possibilidade do acompanhamento das crianças, de mulheres grávidas… Tentar ser aqui uma mais-valia, um elo de proximidade entre as instituições públicas e também instituições privadas, associações privadas, e colaborar com o nosso trabalho e com o nosso "know-how".
Portanto, estão a querer criar condições para uma maior ajuda a esta comunidade...
Ajudar a criar condições e também para que essa comunidade se envolva. Também é muito importante que conheçamos a sua cultura. Eles beneficiam daquilo que são as respostas sociais e as respostas públicas, mas também queremos que eles, a comunidade cigana, interajam. Que, por um lado, beneficie, mas, por outro lado, também interaja com a nossa cultura e nós com eles, beneficiando assim das prestações sociais e de outras situações que vão surgindo ao longo deste tempo.
Está com as mangas arregaçadas para esta missão...
É um desafio. É um grande desafio. Quando o Papa Francisco dizia em Fátima "todos, todos, todos", eu não imaginaria que teria a braços, neste momento, este desafio também junto da comunidade cigana, querer incluí-los e querer estar com eles para aquilo que são os seus problemas, os seus desafios, os seus projetos e os seus sonhos. E quero com eles sonhar e com eles projetar uma melhor vida, uma melhor comunidade cigana.