A economia portuguesa acelerou no segundo trimestre, com uma subida de 2,3% face ao mesmo período do ano anterior e de 0,5% em cadeia, confirmou esta sexta-feira o Instituto Nacional de Estatística (INE).
Os números do Produto Interno Bruto (PIB) atestam a estimativa rápida publicada em 14 de agosto e são impulsionados pelo consumo privado, nomeadamente a aquisição de viaturas.
"O contributo da procura interna para a variação homóloga do PIB aumentou para 2,9 pontos percentuais (2,6 pontos percentuais no trimestre anterior), em resultado da aceleração do consumo privado, enquanto o investimento apresentou um crescimento menos acentuado, determinado em larga medida pela diminuição da Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) em material de transporte, refletindo o efeito base da forte aceleração verificada no segundo trimestre de 2017", adianta o INE.
No segundo trimestre, o PIB registou uma taxa superior em 0,2 pontos percentuais à registada nos três meses anteriores.
"O consumo privado (despesas de consumo final das famílias residentes e das instituições sem fim lucrativo ao serviço das famílias) aumentou 2,6% em termos homólogos, mais 0,5 pontos percentuais que no trimestre anterior, enquanto o consumo público apresentou uma variação homóloga de 0,4% (0,3% no trimestre anterior)", refere o INE.
"O investimento desacelerou, passando de um crescimento homólogo de 7,1% no primeiro trimestre para 6,4%", acrescentou o instituto.
A procura externa líquida "apresentou um contributo ligeiramente mais negativo (-0,7 pontos percentuais)", aponta o INE, "refletindo a aceleração ligeiramente superior das importações de bens e serviços em comparação com a das exportações de bens e serviços".
Relativamente aos primeiros três meses do ano, a economia cresceu 0,5%, sendo que "o contributo positivo da procura interna para a variação em cadeia do PIB aumentou ligeiramente no segundo trimestre (0,9 pontos percentuais)".
Finanças destacam crescimento "ligeiramente superior ao europeu"
O Ministério das Finanças destaca que o crescimento do PIB "foi ligeiramente superior" ao europeu e da zona euro, permitindo a Portugal continuar a "tendência de convergência com a União Europeia".
Em comunicado, o gabinete de Mário Centeno refere que "o crescimento do PIB foi ligeiramente superior ao europeu e à zona euro (2,2% em termos homólogos), permitindo a Portugal prosseguir a tendência de convergência com a União Europeia".
O crescimento da economia, aponta, "ocorre num contexto de maior equilíbrio das contas externas (o saldo externo de bens e serviços manteve um excedente nominal de 0,4% do PIB) e de gestão criteriosa das contas públicas (o consumo público regista uma variação homóloga de 0,4%)".
Destaca ainda que "este é o décimo sétimo trimestre consecutivo de crescimento da economia portuguesa, num quadro de maior equilíbrio macroeconómico interno e externo e de consolidação fiscal", e que "este cenário é o melhor garante de resiliência da economia portuguesa face às exigências macroeconómicas e de provisão sustentável de serviços públicos".
O Ministério das Finanças aponta "a forte dinâmica de investimento (6,4% em termos homólogos), com especial destaque para o aumento de 10,2% do investimento em 'outras máquinas e equipamentos'", salientando que "o crescimento das exportações de bens e serviços também acelera para 6,8%".
Acrescenta que se manteve "uma forte dinâmica na criação de emprego (aumento de 2,1% do emprego total e de 2,9% do emprego remunerado, corrigidos de sazonalidade) e na redução do desemprego (queda de 2,1 pontos percentuais, menos 110 mil desempregados)".
“Preocupa-me muito este tipo de evolução”, diz João Duque
Na opinião de João Duque, do Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG), e economia nacional não está a criar resistências necessárias para enfrentar uma eventual nova crise.
“Infelizmente, as duas principais forças que deviam ser o motor do crescimento em Portugal, as exportações e o investimento, estão a dar uma forte preocupação a todos os portugueses porque não crescem de acordo com aquilo que seria expectável e desejável”, alerta o economista em declarações à Renascença.
“Preocupa-me muito este tipo de evolução, porque temos assistido a uma procura interna suportada no consumo, consumo que tem estado a ser fortemente apoiado em empréstimos. Estou para ver se isto não vai trazer problemas, mais tarde, às instituições financeiras”, adverte.
“Por outro lado, preocupa-me porque, na componente externa, as exportações estão a crescer menos do que as importações e isto só tende a aproximar Portugal de uma situação de desequilíbrio da balança comercial e da balança de pagamentos, o que nos pode levar, com um sobressalto e uma crise, a uma situação muito próxima da que já tivemos”, remata João Duque.