O Presidente da República elogiou esta sexta-feira a comunidade islâmica portuguesa, apontando-a como um exemplo, e a tolerância religiosa em Portugal, que considerou fazer parte da cultura nacional, num momento em que os fundamentalismos ganham terreno.
Marcelo Rebelo de Sousa deixou esta mensagem durante uma visita à Mesquita Central de Lisboa, que no seu entender ganhou "um significado especial por aquilo que se vive na Europa".
"Na Europa vive-se muitas vezes um clima de intolerância, de falta de diálogo, de não inclusão, de marginalização, de incompreensão perante os outros. E, por isso, eu quis estar aqui hoje, como estarei com outras comunidades religiosas, para dizer um contrário: nós queremos a paz, o diálogo, a inclusão", declarou o Presidente aos jornalistas.
Segundo o chefe de Estado, "a comunidade islâmica em Portugal é um exemplo disso" também. "Estes nossos irmãos islâmicos têm construído uma comunidade que é um exemplo para todos os portugueses", elogiou.
Nesta cerimónia, o Presidente da República ouviu o imã da Mesquita Central de Lisboa, o xeque David Munir, lamentar que "alguns muçulmanos" cometam "acções que não têm nada a ver com o Islão" e afirmar que "a religião islâmica sempre foi, sempre é e sempre será solidária".
Questionado sobre o ataque desta quinta-feira em Paris, Marcelo Rebelo de Sousa voltou a manifestar-se solidário para com o povo francês e expressou o desejo de que haja "um clima de paz, de serenidade, de segurança, em França como em toda a Europa".
"Os crentes islâmicos rezam por isso, pela paz. Outros crentes rezam por isso. Muitos homens e mulheres de boa vontade que não têm religião, não têm crença, também lutam por isso. É esse um grande objectivo na Europa", considerou.
Marcelo Rebelo de Sousa disse já ter lido o Alcorão, que descreveu como "fascinante" e "inspirador", e foi com uma passagem do livro sagrado dos muçulmanos que começou a sua intervenção no salão principal de orações da Mesquita de Lisboa. .
"Mostra-nos o bom caminho, o caminho desses que tens favorecido. Não o caminho dos que incorrem na tua cólera. Nem dos que se perdem", leu.
Depois, falou da herança árabe de Portugal e definiu os portugueses como "um povo aberto ao mundo", conhecido internacionalmente "pela sua capacidade de diálogo e de construção de pontes, pela sua curiosidade e conhecimento de diferentes culturas e religiões". "São características que fazem parte do nosso colectivo", defendeu.
No mesmo sentido, acrescentou: "Em Portugal, não é costume assistirmos a casos de intolerância religiosa. Em Portugal, não é costume assistirmos a casos de discriminação baseados na crença. Pelo contrário, em Portugal, é costume falarmos de inserção das diferentes comunidades religiosas e de tolerância".
"É assim que somos. Já faz parte de nós", reforçou, considerando que "vale a pena recordá-lo numa altura em que estes valores estão em crise em tantas partes do mundo e em que posições fundamentalistas ganham terreno".
Segundo o chefe de Estado, "também a comunidade islâmica em Portugal defende o princípio da liberdade religiosa, bem como o diálogo entre as religiões", e "merece ser aqui valorizada pelo papel que exerce na sociedade portuguesa".
Marcelo Rebelo de Sousa enalteceu a sua "actuação na noção de que o Islão é paz", a sua "comunicação sobre o papel da mulher no Islão, contribuindo, desse modo, para desmistificar de ideias preconcebidas que associam o Islão a uma menorização do lugar da mulher na sociedade".
Além disso, elogiou-a "por ser uma comunidade com actividades no campo da solidariedade social" e pela "integração daqueles que aqui chegam em busca de refúgio e protecção, realidade bem presente no nosso quotidiano".
Perante o imã da Mesquita Central de Lisboa, o xeque David Munir, e o presidente da Comunidade Islâmica de Lisboa, Abdool Vakil, o chefe de Estado concluiu: "Numa palavra, a comunidade islâmica em Portugal é uma grande comunidade, à qual Portugal tanto deve".
Nesta cerimónia, que juntou membros da comunidade islâmica e do corpo diplomático, também esteve presente a presidente do CDS-PP, Assunção Cristas, que Marcelo Rebelo de Sousa saudou no início do seu discurso.