De uma assentada, o secretário-geral do PS deu duas garantias que levou ao rubro a plateia que no segundo dia de campanha oficial autárquica encheu o Teatro Académico Gil Vicente em Coimbra: a de que o Hospital dos Covões "não vai morrer", ou seja, não será desativado e a promessa de que a nova maternidade da cidade vai mesmo avançar.
Das duas vezes, a sala deixou as bandeirinhas de lado e levantou-se a bater palmas.
O campo deste discurso já tinha sido preparado pelo presidente da câmara de Coimbra, Manuel Machado, recandidato ao cargo nas eleições de 26 de setembro e que se tem visto em dificuldades na última semana com uma sondagem do ISCTE a dá-lo taco a taco com José Manuel Silva, candidato independente de uma coligação liderada pelo PSD, com uma diferença de apenas um ponto percentual.
Com António Costa presente era preciso prometer forte e assim foi.
Machado pediu "pleno aproveitamento do Hospital dos Covões e por isso lutaremos" e em dose dupla disse que conta "com o governo para se concluir o processo para a construção urgente da nova maternidade de Coimbra".
De resto, Manuel Machado na manhã de quarta-feira tinha precisamente visitado o Hospital dos Covões, unidade que tem visto encerradas diversas valências e que o autarca tem pedido com insistência que se mantenha aberto.
Queixas de manhã, assunto resolvido à noite. Costa deu basicamente a garantia ao autarca de que não se preocupasse, que "nem sempre é fácil decidir, discute-se, é bom discutir, mas depois da discussão há que tomar a decisão e decisão tomada há que executar".
Segundo o líder socialista, a decisão passa por "pôr o conselho de administração do Hospital dos Covões a apresentar o seu plano estratégico de desenvolvimento e o hospital dos Covões não vai ser algo que vai morrer, vai ser algo que vai continuar a viver com vocação própria, não para duplicar, mas para complementar a oferta de saúde na cidade de Coimbra", ou seja, os Covões podem manter-se em paralelo com os Hospitais da Universidade de Coimbra, sem necessidade de um acabar em favor dos outros, mas sem se saber, para já, em que termos.
A nova maternidade
O bodo tornou-se ainda mais gordo quando Costa começou por dizer que "esta cidade precisa mesmo de uma nova maternidade", para garantir logo de seguida que "vamos ter nova maternidade". O líder socialista pediu mesmo licença a Manuel Machado, atirando um "posso contar?", fazendo uma pausa e criando efeito, para logo dizer que "temos trabalhado muito nos últimos anos" e revelando o longo processo de negociação à volta da maternidade.
Também a questão do financiamento para a construção deste espaço é problema já resolvido, segundo o líder do PS, mas o grão na engrenagem é onde construir a nova maternidade.
Costa sacou do sorriso que lhe é tão característico para gozar com a situação de existirem "neste momento 700 metros de diferença" para uma "decisão final de abrir o concurso para a elaboração do projeto", referindo-se ao dilema se a maternidade se constrói dentro ou fora do perímetro do Hospital dos Covões, avisando que "não é altura" para tomar a decisão por decorrer a campanha eleitoral.
A questão é que logo a seguir já pode, avisou Costa, dirigindo-se ao amigo "Manel", aconselhando o autarca que "a partir do dia 27, doa por onde doer não podemos levar mais do que três semanas a resolver o problema dos setecentos metros", arrancando gargalhadas e aplausos na plateia.
Costa conta que Machado seja reeleito e espera "muitas horas de negociação" com o autarca para a construção da nova maternidade, salientando os longos anos de amizade entre ambos que "dá uma infinita paciência" negocial.
Direita veio à baila, deslocalização do TC para Coimbra ausente
Antes, e para assinalar o dia do Serviço Nacional de Saúde (SNS), Costa lançou um rasgado elogio aos profissionais do sector, aproveitando para criticar "aqueles que à direita durante anos andaram a fazer campanha contra o SNS, andaram a dizer que o SNS era um caos, aqueles que à direita, em vários concelhos prometem aliás pagar seguros de saúde gratuitos, como se através das companhias de seguros é que nós tivéssemos acesso à saúde".
Logo a seguir, o líder socialista completou referindo que "a verdade é que no momento mais difícil, exigente, onde foi mesmo necessário provar se tínhamos ou não tínhamos capacidade de resposta, quem provou ter capacidade de resposta foi o SNS". Estava dada a única farpa do discurso a uma direita que Costa, porém, não nomeou.
De fora desta sessão ficou o tema da deslocalização do Tribunal Constitucional (TC) para Coimbra, que vai a debate e votação esta quinta-feira no parlamento sob proposta do PSD. Uma intenção arrasada num parecer produzido pelos próprios juízes do TC e que tem sido defendida por Manuel Machado e que o primeiro-ministro e secretário-geral do PS António Costa também já defendeu em 2018.
Sobre esse assunto - e de entre as várias promessas que foram feitas pelo autarca - nem uma palavra.