A nascente do Rio Douro, em Espanha, secou - consequência de um período de forte e prolongada seca que está a atingir a Península ibérica. Não há vestígios de água em Picos de Urbión, a 2.150 metros de altitude, há mais de dois meses. Um cenário catastrófico, nunca antes visto pela população espanhola.
No Porto, e povoações ao longo do curso do Douro, ninguém dá por nada, mas o certo é que as consequências já começam a existir. Para acertar os níveis de água nas albufeiras a EDP travou as descargas. E apesar dos efeitos desta decisão ainda não serem visíveis, o certo é que a água do Douro está a ficar sem oxigénio.
Apesar de não chover, as barragens têm, nesta altura, um nível normal de água, situação que se explica com a decisão da EDP de conter as habituais descargas. Explica o hidrobiólogo Bordalo e Sá que “ao não turbinar a água, não há reposição de oxigénio e aqui é que está o grande problema”.
De acordo com este especialista “a água quando chega á ultima albufeira que é Crestuma/Lever, já chega em pequenas quantidades. E mantendo a água mais tempo nas albufeiras, a água vai apodrecendo”. Bordalo e Sá alerta para o facto de já nesta altura os níveis de oxigénio existente nas aguas do Douro estarem abaixo do que seria normal, “situação que indicia que há problemas que se irão amplificar num futuro breve”.
E se o cenário assim se mantiver, lá para a Primavera teremos de enfrentar graves problemas. Bordalo e Sá considera que o que se está “a fazer nesta altura é a tapar buracos”. Para este especialista “a degradação da qualidade da água vai-se reflectir na degradação ambiental que, em ultima análise, provocará a morte de peixes”. O hidrobiólogo antecipa que “o pior cenário vai verificar-se na próxima primavera e chegaremos ao verão com problemas gravíssimos de qualidade da água”.
Este rio que tem quase mil quilómetros de extensão, mas é a 30 quilómetros da nascente, agora seca, que reside o grande problema.
Em El Pozo, já em Julho, os níveis de água eram preocupantes. Isto porque os espanhóis têm uma área colossal de regadio e para não reduzirem a produção aumentaram o consumo. Na prática, a Portugal chegou, desde essa altura, muito menos água. Como explica o hidrobiólogo, o que se está a fazer, agora, “é a resolver o problema sem se alterar o erro”.
A solução segundo, Bordalo e Sá, terá de passar pela criação de planos de contingência para enfrentar situações de seca que tem tido uma cadência cada vez maior, agora de 12 em 12 anos.
O mais importante é alterar comportamentos, “não só em nossa casa, mas sobretudo na agricultura, que se baseia no regadio tanto em Espanha como em Portugal”. Para Bordalo e Sá “a água tem de ser consumida com parcimónia”.
Em Portugal, cada pessoa consome 125 litros por dia, valor que este especialista considera baixo se tivermos em conta que em Espanha o consumo está acima dos 200 litros por habitante. Mas o problema está na agricultura que, devido ao facto de ser de regadio, consome exageradamente os recursos aquíferos.