Depois de ano e meio marcado por uma pandemia e diversos confinamentos, o cinema documental apostou em temáticas como a resistência e o movimento. Quem o diz é Miguel Ribeiro, o diretor do Doclisboa, o Festival Internacional de Cinema documental que começa esta quinta-feira e que decorre até 31 de outubro.
Após uma experiência digital, devido às restrições da Covi-19, o Doclisboa regressa ao seu formato “de festival”, diz o diretor, ou seja, volta a apresentar cinema em sala. “A preparação desta edição, à medida que fomos percebendo o formato que poderíamos ter, foi uma alegria”, admite Miguel Ribeiro.
“Vai ser uma celebração do cinema, nas salas, mas também nos espaços paralelos do festival, inclusivamente regressa a programação noturna do Doclisboa. Vai ser possível haver debates e conversas. É isso que acreditamos que é o festival. Encontros entre público, cineastas, equipas de filmes, troca de ideias e pontos de vista”, diz o diretor ao programa Ensaio Geral da Renascença.
Em cartaz nesta 19.ª edição estão 249 filmes, com 51 estreias mundiais e 28 estreias internacionais, repartidos pela Competição Internacional, Competição Nacional e seções Riscos, Da Terra à Lua, Heart Beat, Retrospectiva Ulrike Ottinger, Retrospectiva Cecilia Mangini, Cinema de Urgência, Verdes Anos e Doc Alliance.
Nas salas da Culturgest, Cinema São Jorge, Cinemateca Portuguesa, Cinema Ideal, Cinema City Campo Pequeno, mas também nos museus do Oriente e no do Aljube serão projetados os filmes deste ano.
A abertura, esta quinta-feira, será com o filme “Landscapes of Resistance” de Pejzaži Otpora e Marta Popivoda, um documentário que segue as memórias de Sonja, de 97 anos, uma combatente contra o nazismo que foi uma das primeiras mulheres da resistência na Jugoslávia e liderou o movimento de resistência em Auschwitz.
Este é “um filme que lança muitas das questões que atravessam parte do programa” do festival, explica o diretor do Doclisboa.
Miguel Ribeiro, que com Joana Sousa e Joana Gusmão assumiram este ano a direção do festival, destaca também outro filme de Steve McQueen, “Uprising”, que será apresentado no último dia de festival, a 31 de outubro, no Grande Auditório da Culturgest.
“É uma minissérie que no Doclisboa é apresentada num formato de uma sessão com os três episódios e que, de alguma forma, mapeia aquilo que foram alguns momentos das evidências do racismo no Reino Unido, durante a época da Thatcher, mas também da ascensão da National Front e resistência. São filmes que trazem grandes problemas do mundo, mas também figuras de resistência”, indica Miguel Ribeiro.
Na abertura da seção Heart Beat, o responsável da programação do festival destaca a estreia do filme sobre a banda norueguesa A-ha, no dia 22, às 21h30, no Cinema São Jorge. É um filme que acompanha a banda ao longo de quatro anos retratando a sua história e as dinâmicas do grupo que arrebatou os tops mundiais na década de 80.
Na mesma seção será também apresentado o documentário “Eunice ou Carta a Uma Jovem Actriz”, de Tiago Durão, sobre a atriz Eunice Muñoz, e um documentário sobre o chef Anthony Bourdain. “Roadrunner: A Film About Anthony Bourdain” é apresentado nos dias 28 e 31 de outubro, no Cinema São Jorge.
Dos 46 filmes portugueses que marcam a edição deste ano, 11 estão na Competição Nacional e sete são estreias mundiais.
Em cartaz há filmes de Anna Artemyeva, Catarina Botelho, João Lameira, Salomé Lamas, Melanie Pereira, Leonardo Mouramateus, José Oliveira e Marta Ramos, Pedro Figueiredo Neto e Ricardo Falcão, Tiago Afonso, José Vieira e Silas Tiny.
Miguel Ribeiro aponta que na competição portuguesa têm “notado, com alguma admiração, que após este ano de confinamento todos os filmes falam de movimento. Numa altura em que estivemos confinados, estes cineastas estiveram a pensar no que está lá fora, na sociedade que se movimenta, encontra e tem espaços de partilha permanentes”, refere.
No Doclisboa deste ano há ainda espaço para duas retrospetivas, uma dedicada a Ulrike Ottinger e outra à realizadora italiana Cecilia Mangini.