À beira do palco na Alameda D. Afonso Henriques, no Festival Aleluia, a Miriam Gonçalves encontra Pedro Ferreira, antes de subir ao palco com a "Banda da Paróquia". O músico dos Anaquim é também o compositor responsável pelo hino oficial da Jornada Mundial da Juventude (JMJ): "Há pressa no ar".
Em declarações à Renascença, revela o espírito de "paróquia” e de união que o grupo pretende realmente trazer.
"Nós, historicamente, somos do tempo dos bailes, e encontrávamos sempre nas nossas terras, nos bailes da paróquia, malta que não víamos há décadas", começa por explicar o compositor.
"O Baile da Paróquia é um sítio de reencontro, e a banda quer ser mesmo isso, um local de reencontro através da música".
O hino, que tem sido cantado por jovens e menos jovens, já lhe chegou aos ouvidos em várias versões.
“Eu arrisco-me a dizer milhões, porque ao longo dos últimos dias eu tenho recebido versões de tudo quanto é lado. Tenho-me cruzado com pessoas de todo o mundo. E o que é interessante para mim é ser mais um entre eles. [...] Vou olhar para isso daqui a muitos anos, com orgulho".
Quanto à escrita da letra do hino, Pedro Ferreira contou com alguma ajuda. Existiu um concurso prévio para a escrita do hino, que recebeu centenas de candidaturas, e curiosamente quem acabou por escrever a letra não se tinha inscrito.
O grupo ligou a que "percebe disto", um "profissional", leia-se "o padre João Paulo Vaz, que já compõe desde há muito tempo e é irmão de um dos elementos desta banda, que teve ideia de fazer o concurso".
"Ligámos ao João Paulo, ao que ele responde: 'A sério que me estão a ligar? Então eu deixei passar o período para a inscrição, já não conseguia concorrer… esperem lá só um bocado'”, recorda Pedro Ferreira.
"Ele disse-me que tinha sido uma hora, mas eu não acredito. Mas uma hora fica melhor na história. Assim foi", afirma o músico.
A melodia, que foi composta ao piano, demorou algumas horas a idealizar, confessa. Mas aconteceu um clique e percebeu que a música deveria ser apresentada ao público da maneira como estava. E desde aí não se cansou de a ouvir.
"O próprio refrão tem uma certa tensão para depois ouvirmos várias vezes e sem nos fartar. Já ouvi para aí umas 500 vezes."
Como surgiu a inspiração para compor o tema da JMJ? Pedro Ferreira fala num misto de "inspiração divina e de "trabalho e racionalidade".
"Mas aquilo que eu quero dizer aqui e que associo é que nós não andamos por aqui sozinhos. E todos aqueles que estão aqui sabem que pode acontecer justamente com uma música ou com uma boa decisão na vida, ou com aquela questão em que nós temos o nosso filho doente e não sabemos bem porquê e depois as coisas resolvem-se", prossegue.
O músico congratula-se pelo facto de o hino da Jornada Mundial da Juventude ser uma maneira de unir pessoas de todo o mundo, que por estes dias se deslocaram a Portugal.
Pedro recorda com carinho um episódio que se passou em Coimbra, ainda antes do início da Jornada. "Milhares de peregrinos chegaram de todo o mundo e estiveram por todo o país, e três japoneses que estiveram em casa de uns amigos meus chegaram com o 'Há pressa no ar' todo cantado em português. Ele ficou abismado a olhar para eles. Japoneses a cantar em português?!".
"Um deitou-se no chão, e eu levantei-o. Depois contei-lhe em inglês que se estivesse no Japão e conhecesse o autor, se calhar tinha tido exatamente a mesma reação", recorda.
Os arranjos musicais de “Há Pressa no Ar” são da autoria do músico Carlos Garcia. O tema foi gravado em duas versões, que pode consultar na página oficial da JMJ2023: uma versão em português e uma versão internacional, que inclui cinco idiomas (português, inglês, espanhol, francês e italiano).