"Ter médicos a fazer 25, 30 ou 40 dias extra é perigoso"
02-10-2023 - 10:34
 • Beatriz Pereira

O comentador da Renascença Henrique Raposo alerta para a quantidade de "médicos em depressão, sem família”, com uma "taxa de burnout a fazer diagnósticos errados”.

A Ordem dos Médicos fez um apelo ao Governo, na última semana, para encontrar soluções que evitem a “rutura grave e iminente” em pelo menos 20 hospitais do país, com o encerramento da atividade em diversos Serviços de Urgência: um cenário gravado pelo facto de uma vasta maioria de médicos se recusar a trabalhar além das 150 horas extraordinárias obrigatórias.

Para Henrique Raposo, comentador d’As Três da Manhã, esta é uma situação que dificilmente teria sido evitada, porque “se um médico em início de outubro já fez 150 horas extra e se imaginarmos que até ao fim do ano faz 200 horas… isto em dias de trabalho são mais 25 dias de trabalho, mais que um mês de trabalho”, exemplifica.

De acordo com a Ordem dos Médicos e um movimento criado para representar os clínicos nesta questão, “Médicos em luta”, as 150 horas já foram ultrapassadas na grande maioria dos casos.

Para o comentador da Renascença, “quando o Governo diz que esta greve pode pôr em causa a saúde dos utentes”, a questão deve colocar-se “ao contrário”.

“Temos médicos em burnout, em depressão, sem família”, alerta. “Eu gostava de ver as taxas de divórcio dos médicos porque com esta vida é inevitável haver uma vaga de divórcios”.

Questionado pela Renascença, Carlos Cortes, Bastonário da Ordem dos Médicos, admite que o trabalho extra sobre o trabalho extra é que põe em risco o atendimento aos doentes uma vez que o cansaço dos clínicos pode ser um fator de perturbação para os médicos.

Henrique Raposo partilha a mesma opinião. “O que é grave é termos médicos com esta taxa de burnout a fazer diagnósticos errados”.

“O maior indicador do que se está aqui a passar são as sucessivas cartas de demissão de médicos e de enfermeiros que recusam assumir responsabilidades por uma coisa que se passa de errado nos seus serviços, porque sabem que não têm as condições, quer técnicas de equipamento quer a sua capacidade mental”, aponta.

O comentador da Renascença alerta para o quão perigoso é o trabalho dos médicos que fazem 25, 30 ou 40 dias extra, dizendo que admira “os professores e os médicos que continuam a fazer 200/300 horas extra, sacrificando a sua família, os seus filhos e pagando o preço de depressão, burnout e divórcios”.

Mas qual é a solução? “Regressem as PPP's (Parcerias público-privadas)”, admite Henrique Raposo.

“As PPP's funcionavam. Não é uma questão de ideologia, é factual. Olhem para o sistema todo”.

Esta segunda-feira foi conhecido que ministro da Saúde, Manuel Pizarro, vai reunir-se com bastonário dos médicos, na quarta-feira, dia 4, para discutir a questão das horas extraordinárias dos médicos além do máximo legal de 150 horas.