Eleição de Guterres "é um grande momento" para a ONU, "uma esperança, um sangue novo"
05-10-2016 - 18:55

Seixas da Costa e Martins da Cruz saúdam a votação do Conselho de Segurança que deixa Guterres a um passo de se tornar o próximo secretário-geral da ONU.

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O embaixador Seixas da Costa considera que a escolha de António Guterres como novo secretário-geral das Nações Unidas “é uma vitória da transparência e ao ser uma vitória da transparência é também uma vitória das próprias Nações Unidas sobre si própria”.

“As Nações Unidas vivem muito num mundo de decisões a cinco entre os membros permanentes do Conselho de Segurança - que são o factor decisivo relativamente àquilo que são as tomadas de decisão colectivas", lembra Seixas da Costa, em declarações à Renascença.

"A circunstância de a assembleia-geral ter chamado a si um processo de transparência no qual emergiu um candidato quase inesperado, relativamente aos equilíbrios que num certo momento se pensava, acaba por mostrar que vale a pena abrir os processos, torná-los mais dialogantes e dai resultam soluções, que, não correspondendo às soluções tradicionais, são aquelas que melhor servem as Nações Unidas”, conclui.

“É um grande momento para as Nações Unidas”, afirma Seixas da Costa.

A candidatura de Guterres passou por todas as fases e ultrapassou mesmo a temida candidatura de Kristalina Georgieva, que surgiu em cima da última votação.

Já o ex-ministro dos Negócios Estrangeiros, Martins da Cruz, lembra, à Renascença, que o secretário-geral das Nações Unidas desempenha vários papéis.

“O secretário-geral é ao mesmo tempo o administrador da máquina das Nações Unidas, a pessoa que tem de dar coerência à acção de todas as Nações Unidas, não apenas em Nova Iorque, mas as várias agências especializadas que têm as Nações Unidas e, por outro lado, tem uma margem de manobra política que lhe é dada conforme o Conselho de Segurança determine a intervenção do secretário-geral em assuntos concretos – e assuntos concretos não faltam, desde a Síria aos refugiados”.

"É uma esperança, um sangue novo"

O ex-Presidente português Jorge Sampaio destaca que, com a vitória de António Guterres na sexta ronda para a eleição do próximo secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), "triunfou uma forma participada", contra "manobras de última hora".

Em declarações à SIC Notícias, o ex-Chefe de Estado referiu-se assim ao surgimento, a meio do processo eleitoral, da comissária europeia para Orçamento e Recursos Humanos, Kristalina Georgieva, apoiada por Bulgária e Alemanha.

O resultado desta quarta-feira provou que tal "manobra" era "contra o sentimento geral" e impôs um "processo participado", frisou Jorge Sampaio, ex-enviado especial da ONU e que preside actualmente à Plataforma Global de Assistência Académica de Emergência a Estudantes Sírios.

A eleição de Guterres - que precisa agora de ser confirmada pela Assembleia-Geral da ONU - "é uma esperança, um sangue novo", que inaugura uma "nova época" para a organização, considerou Jorge Sampaio, sublinhando que o ex-alto comissário não teve tarefa "fácil".

O ex-chefe de Estado português elogiou as "qualidades" e "capacidades" de Guterres, que já felicitou "pessoalmente", pelo "momento notável" e "pela forma como a sua candidatura foi gerida".

Sampaio enalteceu ainda a diplomacia de Portugal. "Somos vistos de uma forma muito positiva, com capacidade de diálogo em todas as direcções", frisou. "É uma grande notícia" para "um país que tem necessidade de boas notícias", disse.

O sucessor do actual secretário-geral, Ban Ki-moon, terá pela frente "tarefas gigantescas", antecipa Sampaio.

Passos Coelho: "Histórico para Portugal"

O líder do PSD considera que a eleição de António Guterres no Conselho de Segurança para secretário-geral das Nações Unidas "é histórico para Portugal", sublinhando o papel que o Governo e a diplomacia portuguesa desempenharam no processo.

"É histórico para Portugal, é a primeira vez que um português terá este lugar tão relevante", afirmou o presidente do PSD, Pedro Passos Coelho, em declarações aos jornalistas no Palácio de Belém, no final da cerimónia de condecoração do ex-presidente do Tribunal de Contas Guilherme d'Oliveira Martins, do anterior presidente do Tribunal Constitucional Joaquim Sousa Ribeiro e do histórico dirigente socialista Manuel Alegre.

Sublinhando que se trata de um "resultado de júbilo" para o país, Passos Coelho disse querer "publicamente expressar as congratulações do PSD" ao Governo, "que teve relevância em todo o processo", bem como à diplomacia portuguesa, nomeadamente ao embaixador de Portugal em Nova Iorque, Mendonça e Moura, que esteve "na primeira linha de todo este trabalho da diplomacia portuguesa".

Passos Coelho reiterou ainda que António Guterres era "manifestamente o melhor candidato de todos os que se apresentaram", considerando que "irá encher Portugal de orgulho" nos próximos anos pela forma como irá liderar as Nações Unidas.

Questionado se o surgimento, a meio do processo eleitoral, da candidatura da comissária europeia para Orçamento e Recursos Humanos, Kristalina Georgieva, apoiada por Bulgária e Alemanha, poderá vir a fragilizar as relações entre Portugal, a comissão europeia e a Alemanha, o líder do PSD disse ter a certeza que não.

Passos Coelho, admitiu, contudo, que o facto de ter havido uma candidatura de última hora, ainda por cima de uma pessoa que era vice-presidente da comissão europeia, não foi "um processo nem bonito, nem que deva ficar como uma boa prática para futuro".

Assunção Cristas: Vitória "honra muito Portugal"

A presidente do CDS, Assunção Cristas, definiu a eleição de António Guterres à liderança das Nações Unidas como uma vitória pessoal e da diplomacia portuguesa que "honra muito Portugal".

Após recordar que a votação formal apenas ocorrerá na quinta-feira, a líder dos centristas considerou em declarações aos jornalistas junto ao Planetário da Gulbenkian que "este já é o dia em que podemos dar os parabéns firmes ao engenheiro António Guterres", antes de destacar o seu empenho pessoal na conquista do cargo de secretário-geral da ONU.

"É em primeiro lugar uma vitória dele, pelo seu mérito, pelo seu percurso, pelo trabalho que desenvolveu também na preparação desta candidatura e que a todos também impressionou", considerou.

Assunção Cristas emitiu ainda uma "palavra de parabéns também para a diplomacia portuguesa que se empenhou e também terá feito certamente a diferença", extensível às Nações Unidas pelo "processo transparente e público e merecem um elogio por este processo".

E concretizou: "É uma vitória para as Nações Unidas que terão o melhor candidato possível para este cargo. É também algo que honra muito Portugal e que nos permite continuar a afirmar-nos como nação que constrói pontes, que constrói consensos e que procura trabalhar pela paz no mundo".

A líder do segundo partido da oposição enfatizou ainda um processo de eleição "muito transparente, público desde o início, a dada altura com dúvidas sobre se seria conduzido até ao final desta forma", e elogiou o triunfo "desta linha da transparência de um processo público com as audições, votações absolutamente claras que todos nós pudemos acompanhar de forma muito entusiasmada".

Catarina Martins: Guterres é "opção indicada para o cargo"

A coordenadora do Bloco de Esquerda (BE) sublinha que as Nações Unidas mostraram-se imunes a "manobras mais ou menos estranhas" na eleição do seu líder, elogiando a candidatura de António Guterres, indicado como favorito para secretário-geral da entidade.

"É uma boa notícia, uma notícia que nos deve alegrar", vincou Catarina Martins, questionada em Lisboa, num comício do Bloco a propósito do 5 de Outubro, sobre a indicação de Guterres como favorito para o cargo de secretário-geral das Nações Unidas.

E prosseguiu: "É uma boa notícia desde logo para as Nações Unidas, que conseguiram mostrar que são imunes a manobras mais ou menos estranhas", disse, numa alusão à candidatura da búlgara Kristalina Georgieva, surgida à última hora.

"Mais importante" que a nacionalidade de Guterres, sublinhou a bloquista Catarina Martins, "é que seja a opção indicada para o cargo", o que sucede, e o antigo primeiro-ministro português é um bom nome no reforço da "paz, cooperação e desenvolvimento" que as Nações Unidas promovem.

PCP. "Passo importante e quase decisivo"

O PCP considera que foi dado "um passo importante e quase decisivo" para a eleição de António Guterres como secretário-geral da ONU e defende ser necessário contrariar a "linha de instrumentalização" das Nações Unidas que tem sido seguida.

"Aquilo que neste momento poderemos dizer é que foi dado um passo importante e quase decisivo para a eleição de António Guterres como secretário-geral das Nações Unidas", afirmou à Lusa Ângelo Alves, membro da Comissão Política do PCP.

O responsável, que referiu que "o PCP fará uma declaração mais elaborada sobre esta questão no momento certo, após a conclusão do processo de indigitação do secretário-geral das Nações Unidas", sublinhou ainda que "um bom secretário-geral das Nações Unidas deve primar o seu mandato e a sua acção no respeito pelos princípios na carta das Nações Unidas, pela defesa do direito internacional e dos direitos dos povos e dos estados membros".

"Os desafios que se colocam ao novo secretário-geral da ONU são imensos, num momento em que o mundo atravessa tensões muito grandes e em que um conjunto de acontecimentos de facto relevam da importância da defesa dos princípios da Carta das Nações Unidas e da não instrumentalização da ONU para fins que não são os daquela organização", referiu.

Ângelo Alves defendeu ainda que o novo secretário-geral deve "tentar contrariar aquilo que tem sido, infelizmente, uma linha de instrumentalização da ONU, nomeadamente pelas maiores potências ocidentais e, nomeadamente, as potências da NATO".

Federica Mogherini: "Um homem de visão, coração e acção"

A chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini, felicitou através das redes sociais, António Guterres pela sua indicação como favorito para o cargo de secretário-geral da ONU, afirmando que o candidato português é um "homem de visão".

"Felicito António Guterres. Um bom amigo, um homem de visão, coração e acção", escreveu a Alta Representante da União Europeia (UE) para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança, a italiana Federica Mogherini, na rede social Twitter.

Na mesma mensagem, Mogherini referiu que a cooperação entre a UE e a ONU "irá crescer ainda mais forte".

Martin Schulz. "Um orgulho para Europa"

O presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz, já felicitou António Guterres pela sua eleição para a liderança das Nações Unidas, que considera "um orgulho para Europa".

Na sua conta na rede social Twitter, o socialista alemão Martin Schulz escreveu que já teve oportunidade de falar ao telefone com António Guterres e felicitá-lo "pelas boas notícias que chegam de Nova Iorque".

"Ele será um sensacional secretário-geral das Nações Unidas. Um orgulho para a Europa", completa o presidente da assembleia europeia na mensagem publicada.

Esta foi a primeira reacção ao nível da União Europeia à votação de hoje do Conselho de Segurança da ONU que ditou o triunfo de António Guterres, a ser formalizado em breve.

Contactada pela Lusa, a Comissão Europeia -- cuja vice-presidente Kristalina Georgieva entrou na semana passada na corrida à liderança da ONU - indicou, através de um porta-voz, que "neste momento" não tem ainda comentários a fazer, e também o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, não se pronunciou.

"Grande motivo de orgulho para Portugal"

O jurista e ex-ministro Guilherme D´Oliveira Martins, declarou que a eleição de António Guterres à liderança das Nações Unidas significa um "reconhecimento pessoal" e "grande motivo de orgulho para Portugal".

"Ter um português como secretário-geral das Nações Unidas num momento tão importante, e tão difícil, é uma grande responsabilidade para todos", comentou.

Sobre o aval dado hoje pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas à candidatura de António Guterres a secretário-geral da organização, Guilherme D´Oliveira Martins sublinhou que se trata de uma escolha "extraordinariamente importante".

"É uma grande alegria. Tive já oportunidade de felicitá-lo e ele manifestou-me uma grande felicidade, disse que está muito satisfeito", revelou. Para Guilherme D´Oliveira Martins, esta escolha "deve-se fundamentalmente ao prestígio, ao empenhamento, às qualidades pessoais indiscutíveis reveladas pelo engenheiro António Guterres".

António Guterres venceu a sexta votação entre os países do Conselho de Segurança, com 13 votos a favor, dois sem opinião e sem nenhum veto. O nome do português deve ser formalizado esta quinta-feira pelos 15 países-membros e ser apresentado em breve à assembleia-geral da ONU.