O diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atómica reuniu-se esta quarta-feira em Istambul com altos funcionários do Governo da Rússia para discutir uma possível inspeção na central nuclear ucraniana de Zaporijia, ocupada pela Rússia desde março.
“Importantes discussões técnicas [decorrem] hoje em Istambul sobre uma iminente missão da AIEA à central nuclear ucraniana em Zaporijia”, declarou Rafael Grossi na rede social Twitter.
A mensagem é acompanhada por uma foto que mostra Grossi e dois outros altos funcionários da AIEA — agência da ONU – reunidos com uma delegação russa liderada por Alexei Likhachev, chefe da Rosatom, empresa estatal de energia nuclear da Rússia.
O diretor-geral da AIEA está a alertar há meses sobre o risco da ocupação russa na central nuclear de Zaporijia, a maior da Europa, com seis reatores.
A situação agravou-se com os recentes bombardeamentos nas proximidades da central nuclear, os quais Rússia e Ucrânia atribuem um ao outro.
A AIEA garantiu na terça-feira, num comunicado, que a Ucrânia informou que as explosões registadas no último fim de semana causaram “danos adicionais” nas proximidades da central nuclear.
Grossi alertou novamente sobre “os sérios riscos de segurança e proteção nuclear enfrentados pela instalação” e sublinhou a necessidade urgente de um grupo de especialistas da AIEA visitar a central o mais rápido possível.
A Rússia, por sua vez, confirmou hoje que compartilha a intenção da AIEA de realizar tal missão num futuro próximo, assim que a situação militar no terreno permitir.
Num comunicado, a Rosatom enfatizou a tarefa prioritária de garantir a segurança das instalações nucleares na Rússia e na Ucrânia após os ataques à central nuclear de Zaporijia, que a Rússia atribui a grupos armados ucranianos.
Além disso, a agência russa fez referência na mesma nota a supostas ações de sabotagem contra a central nuclear russa em Kursk, localizada a cerca de 150 quilómetros da fronteira com a Ucrânia.
A esse respeito, enfatizou que a segurança das instalações nucleares, onde quer que estejam, sempre foi e continua a ser uma prioridade absoluta para a Rússia.
A Ucrânia está a assinalar hoje os seis meses da invasão do seu território pela Rússia, em 24 de fevereiro, com uma exposição em Kiev de equipamento militar destruído ao inimigo. Os seis meses da guerra coincidem com o 31.º aniversário da independência da Ucrânia, declarada em 24 de agosto de 1991.
A ofensiva militar russa já provocou a fuga de quase 13 milhões de pessoas — mais de seis milhões de deslocados internos e quase sete milhões para os países vizinhos -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
A invasão russa — justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de “desnazificar” e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia – foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções em todos os setores, da banca à energia e ao desporto.
A ONU já confirmou a morte de mais de 5.500 civis, mas continua a alertar que o número será consideravelmente superior.