Em maio deste ano, foi evidente a contradição de discurso entre Pedro Nuno Santos e António Costa. Há quatro meses, na campanha eleitoral das europeias, houve uma guerra surda ideológica sobre a possibilidade de aliança entre socialistas e liberais, defendida pelo primeiro-ministro, e osavisos do ministro das infra-estruturas sobre os perigos dessa aliança.
Quatro meses volvidos, o PS cerra fileiras em torno do líder. Em causa estão agora as eleições legislativas e Pedro Nuno aproxima quase mimeticamente o seu discurso ao de Costa. Porque, diz o ministro, "é preciso que o PS tenha um grande resultado nas eleições do próximo domingo".
Num centro de congressos de Aveiro à pinha, esta terça-feira à noite, e em quase estado de euforia quando Pedro Nuno e Costa subiram ao palco, ambos disputaram o "palmómetro" do auditório.
O secretário-geral do PS, visivelmente bem disposto, apresentou Pedro Nuno como sendo "um bocadinho mais novo" do que ele próprio, "fresquinho da costa para muitos e bons anos ao serviço do país e do Governo de Portugal".
E foi numa espécie de pose de Estado e a ler o discurso que o ministro das infra-estruturas ensaiou uma linha de raciocínio para explicar que há diferenças entre o PS e a direita, "porque é que estamos aqui e não num comício do PSD", resumiu Pedro Nuno. E começou então a descrição dessa linha de fratura e divisão "para trazer clareza ao debate político".
Para o ministro que ambiciona um dia ser líder do PS, "se a direita gostava de transformar a sociedade num grande mercado", já os socialistas querem "melhorar a forma" como se vive "na comunidade".
E deu exemplos "dos laços" que ligam essa comunidade, numa espécie de cadeia social infinita: "os laços que ligam a professora que ensina o filho do polícia, que protege a mãe da enfermeira que cuida do agricultor reformado, que é pai da trabalhadora que faz os melhores sapatos do mundo, que é irmã da professora que ensina o filho do polícia".
Há mais diferenças entre a direita e os socialistas, segundo o "fresquinho da costa" de Costa. Para Pedro Nuno Santos, "a direita não teria aumentado as pensões, não teria aumentado o salário mínimo nacional, o abono de família". Estas foram "as reformas" do PS, "não são as reformas 'deles'" resume o ministro.
Agora, então, é preciso "um PS forte", porque "nenhuma destas reformas se fez ou fará sem o PS" e daí o "grande resultado" que Pedro Nuno quer. A sala explodiu num "PS, PS" quando foram ouvidas estas palavras.
O ministro das infra-estruturas a jogar em casa, em Aveiro, o distrito de onde é natural e por onde concorre como cabeça de lista às eleições legislativas de 6 de outubro e a gritar como fim de discurso que é preciso um "PS mobilizado" para "construir um país para todos".
Depois de um apoteótico "viva o PS" de Pedro Nuno, o secretário-geral socialista subiu ao palco para elogiar o ministro: é mesmo "um luxo tê-lo no governo", a par do ministro do Trabalho, Vieira da Silva, que também se encontrava no auditório.
Foi então a vez de Costa definir aquilo que acha que diferencia o PS dos partidos da direita: PSD e CDS querem "abrir à gestão privada os centros de saúde" e, na segurança social, "queriam uma luta de gerações" há quatro anos ,entre "uns tratados como peste grisalha e outros com promessas de futuro".
E depois Costa carregou na tecla da erradicação da pobreza. O líder socialista quis explicar que há quatro anos não podia "assumir esse compromisso".
Mas este ano, pelos vistos, pode. E porquê? Porque foram criadas "as condições económicas e financeiras que evitaram a vinda do diabo e que garantem que o PS o pode assumir, sem que o diabo volte a aparecer nos próximos quatro anos".
No final do discurso António Costa foi-se imediatamente embora e, pelo contrário, Pedro Nuno Santos ficou longamente a conversar com vários militantes do partido, subindo de novo ao palco para tirar fotografias com elementos da Juventude Socialista, que chegou a liderar.