​Marcelo Rebelo de Sousa não gosta de Donald Trump e isso “notou-se”
29-06-2018 - 12:34
 • Ricardo Conceição

Com Begoña Iñiguez na Galiza e Olivier Bonamici quase sem voz, esta edição do "Visto de Fora" prova que não há distância ou rouquidão que trave a opinião de quem olha para de fora para dentro.

“Marcelo é uma pessoa que sabe muito bem estar, uma pessoa que tem a capacidade de estar com qualquer pessoa… notou-se demasiado que não gosta dele [Donald Trump]." Begoña Iñiguez não consegue guardar o sorriso ao analisar um dos pontos que marcam a semana, a visita do presidente da República à Casa Branca.

Na Sala Oval, Marcelo Rebelo de Sousa e Trump trocaram palavras e galhardetes numa conversa que o chefe de Estado classificou de “calorosa”, mas para Olivier Bonamici tratou-se de mais uma exemplo de fanfarronice nacional. “Já não há paciência” para o discurso do “melhor do mundo e do vinho da Madeira”, afirma o jornalista francês. Bonamici propõe um desafio: imaginemos Trump em Lisboa a dizer que LeBron James é o melhor basquetebolista do mundo, “não faz sentido”. No entanto, Bonamici gostou da “boca que Marcelo mandou no fim” a Donald Trump e acrescenta que “pela primeira vez tive pena do Trump, acho que ele não sabe quem é o Cristiano Ronaldo”.

Por seu lado, Begoña Iñiguez acha pouco feliz a afirmação “Portugal não é os Estados Unidos. Ainda que todos pensemos isso, neste caso não era apropriado”.

Neste "Visto de Fora" é ainda analisado o actual momento político, com os partidos a alinharem-se para as eleições de 2019. A entrevista da Renascença e jornal "Pùblico" a João Galamba e o artigo de opinião de Pedro Filipe Soares no "Diário de Notícias" são exemplos de que nem tudo vai bem no reino da Geringonça e “cheira” a acordo PS - PSD. Esta eventual aliança estratégica seria “um grande erro” na opinião de Bonamici. “Fazes um acordo com a extrema-esquerda e depois, quando te dá jeito, fazes com a direita. As pessoas não vão gostar muito destas misturas. A rua vai estar com a esquerda. Para o PS seria melhor fazer uma geringonça com a extrema-esquerda”, vaticina o jornalista francês.

“António Costa é um animal político é super-inteligente, com um olfato impressionante para este tipo de coisas. Se calhar está a preparar um pacto com o PSD e a preparar com os outros” especula Begoña Iñiguez para quem o grande problema “está no PSD. Não está forte e basta olhar para o anúncio de Santana Lopes. As divisões no PSD são preocupantes”.

E há espaço para um novo partido?

A correspondente da Cadena Cope em Lisboa diz que sim, mas “o problema é que em Portugal são sempre os mesmos. Acho que os portugueses precisam de novas caras e pessoas com credibilidade”. Num raro momento de concórdia, Olivier Bonamici subscreve a opinião de Begoña Iñiguez e acrescenta “há espaço para novos partidos, mas com líderes novos”. Caso contrário, seria “como se a esquerda inventasse um novo partido liderado por Jorge Sampaio”.

"Portugal precisa claramente de caras novas”, conclui o correspondente da France Inter.

Esta semana fala-se ainda de Lisboa e do estudo que a coloca entre as 100 cidades mais caras do mundo e da capacidade nacional para organizar festivais, como o Rock in Rio. E desta vez os nossos comentadores acertam na pergunta do Índice de Tugalidade.


A chave para o futuro da Europa e dos Migrantes está na Alemanha.

Os resultados da maratona negocial em Bruxelas são tema central deste Visto de Fora, que reflete sobre acordo alcançado para os migrantes.

“Há um risco de implosão da Europa caso a CSU e o discurso populista ganhem as eleições regionais de outubro 2019” na Alemanha. A previsão é feita por Olivier Bonamici no rescaldo de uma maratona negocial em Bruxelas que resultou num acordo sobre os migrantes.

Para o jornalista francês a chave do futuro da Europa e dos migrantes está no equilíbrio de forças na Alemanha e na forma como a chanceler vai sair do braço de ferro com os parceiros de coligação, a CSU.

Os cristãos-democratas da Baviera querem menos migrantes, menos refugiados e uma malha mais apertada para controlar a entrada de estrangeiros. Esta posição está a fazer tremer o frágil governo alemão de Merkel. Um executivo que levou meses a formar e obrigou a grandes cedências. “Se a Alemanha se tornar num país populista e seguir a linha da CSU para a Europa vai ser muito complicado”, afirma Bonamici.

Os 27 alcançaram o “acordo possível” na opinião de chefes de Estado, de Governo e de vários comentadores, mas Begoña Iñiguez é menos cautelosa e fala numa “ vitória clara para Itália e é muito triste isto dos centros de acolhimento. Tudo isto coloca-nos na mesa o perigo que representam governos como o de itália e as políticas anti-imigração tão pouco generosas e tão injustas.”

O problema dos migrantes e dos refugiados é para os nossos comentadores uma questão de Direitos Humanos e não pode estar dependente de “egoísmos” de Estado. “Um só país não pode solucionar o problema. Têm de ser todos os países a participar”, acrescenta a jornalista espanhola.

Aquilo que sai de uma maratona negocial é uma solução que deixa Olivier Bonamici céptico em relação ao futuro. Numa análise ao presente da União Europeia, o jornalista francês não esconde o que sente: “há quem diga que a Europa estava à beira da ruptura e não está. Ainda está viva. No entanto, não estou superconfiante. Tudo o que li e ouvi destes dirigentes europeus faz-me lembrar Asterix. Quando há o peixe mal cheiroso e os habitantes da aldeia fogem. Aquilo que eu ouvi nos últimos dias dos dirigentes europeus dá-me vontade de fugir perante o que propõem. Não fico orgulhoso de ser europeu depois do que ouvi. Parece que o migrante é uma raça que nasce debaixo da terra e preocupa-me imenso este acordo.”


Este conteúdo é feito no âmbito da parceria Renascença/Euranet Plus – Rede Europeia de Rádios. Veja todos os conteúdos Renascença/Euranet Plus