António Costa, primeiro-ministro cessante, fez, esta quarta-feira, um balanço do percurso dos três governos que liderou, e um dos temas em destaque foi a gestão da TAP.
“Fico muito contente que a TAP tenha lucros e espero que ninguém ache que seja um excesso que a TAP tenha lucros”, atira Costa sobre a notícia dos lucros da TAP. “Deixamos a companhia felizmente recuperada”, acrescentou.
A TAP alcançou no ano passado o maior resultado líquido de sempre, com um lucro de 177,3 milhões de euros, enquanto as receitas ultrapassaram pela primeira vez os 4.000 milhões de euros, anunciou a empresa.
Num comunicado divulgado esta quarta-feira, a transportadora aérea portuguesa informa que este lucro representa uma subida relativamente ao ano anterior, em que o resultado líquido tinha ficado pelos 65,3 milhões de euros.
Ligando o tema ao do excedente orçamental, Costa diz a responsabilidade de lidar com “situação orçamental e de redução da dívida pública que temos” é do próximo governo. Costa mostrou-se “satisfeito” por situação ser melhor do que a encontrou em 2015. “É melhor decidir como gastamos o que temos do que andar preocupados em saber como pagamos o que temos de pagar”, afiança.
Recentemente, o presidente do PS, Carlos César, manifestou a preocupação de o excedente o poder ser “excessivo”.
Ainda na aviação, sobre o tema do novo aeroporto, Costa diz que o novo Governo estará “em condições de decidir”. “Só terei pena se não houver decisão. Acho que fiz o que era correto e não me arrependo", declarou. "Com grande probabilidade irá tomar a decisão que eu iria tomar”, acrescentou Costa.
Falha na habitação, área que Pedro Nuno tutelou
Já sobre o que falhou na governação socialista, António Costa deu o exemplo da habitação. “Houve matérias nas quais gostaria de ter avançado mais depressa, medidas que não funcionaram como desejávamos”, reconheceu.
O atual secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos, foi titular da pasta da Habitação durante três anos.
“Acho que ninguém antecipou subida de preços”, disse.Costa também falou da Saúde e da falta de médicos de família, mas nesta matéria diz que há atenuantes como a redução do número de médicos e o aumento da população.
“Não faltarão ao governo problemas por resolver”, resumiu.
"Houve matérias nas quais gostaria de ter avançado mais depressa, medidas que não funcionaram como desejávamos"
Numa conferência de imprensa longa, mais de uma hora, António Costa desfiou vários números da governação em diversas áreas. No final, questionado pelos jornalistas sobre se não estaria a traçar um cenário demasiado positivo, em números, para aquela que é a realidade do país, Costa respondeu que "não apresentei cenários, apresentei resultados".
"Há oito anos, o problema do país não era saber o que fazer com excedentes", lembrou.
Costa diz ainda que não foi por falta de investimento público que houve um excedente. "A chave foi o enorme crescimento de receita da Segurança Social (SS), cobriu o défice da administração central e as autarquias", argumentou.
O primeiro-ministro cessante diz ainda que esse crescimento da receita da SS se deveu ao aumento do emprego e ao aumento dos salários.
Sobre qual a marca que gostava que ficasse da sua governação, Costa disse: "Cada um ficará com o souvenir da minha governação que quiser".
António Costa ainda sobre as contas públicas disse que com "a experiência de ter
começado a governar em défice, com ameaça de multa, em situação de défice
excessivo, devo dizer que preferia não começar a governar assim”. E usou a época da pandemia para justificar os benefícios da almofada parlamentar. “Pudemos responder a isso porque tínhamos capacidade orçamental. O equilíbrio
orçamental não é uma religião, é algo que devemos ter para podermos não o ter
quando é necessário”, ilustrou.
António Costa voltou a abordar as relações com o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, reforçando não se recordar de oito anos em que a relação tivesse sido tão fluida.
Ainda assim considerou que é normal que “não concordem 100%”, em todos os casos, sendo personalidades que são de campos políticos diferentes. “O mais relevante não foram os momentos de desacordo, mas aqueles em que apesar do desacordo trabalhámos bem e em conjunto. A avaliação que faço é que os portugueses apreciaram bastante”, avalia.
"A chave [do excedente] foi o enorme crescimento de receita da Segurança Social (SS), cobriu o défice da administração central e as autarquias"
Em relação ao setor da Justiça e sobre se ficou arrependido de não ter alinhado na reforma do setor que o ex-líder do PSD Rui Rio desejava, Costa afirmou não estar convencido de que o problema esteja no Conselho Superior do Ministério Público.
Defende que esse passo poderia levar a uma menor autonomia do MP. “Admitindo que eu pudesse ter razões de queixa, nunca deixaria de achar que é uma mais valia termos um sistema de Justiça acima de qualquer suspeita de influência política e com MP que não é um braço armado do Executivo”, garante.
Futuro em aberto
Sobre o impasse político que se vive no Parlamento, António Costa disse que não queria comentar a atualidade político. "Não sou comentador. Talvez um dia venha a ser", antecipou.
Já sobre as palavras de Marcelo Rebelo de Sousa, no dia do último Conselho de Estado, e que antecipou que pode voltar a cruzar-se com o primeiro-ministro cessante nas “encruzilhadas ao serviço de Portugal”, Costa diz que interpretou essas declarações como “uma forma simpática de me convidar para almoçar ou jantar um dia destes”.